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Estou feliz pelo aniversário

04/01/2017

É uma tragédia o que aconteceu em Manaus, mas eu não tenho pena.

Eu tenho pena daquelas pessoas que moram na favela, dormindo sob uma tábua e sobre outra. As mesmas pessoas que saem para trabalhar às cinco da manhã, pegam duas ou mais conduções e retornam às oito da noite depois do aperto dos ônibus lotados.
Eu tenho pena daqueles aposentados que ficam na fila do posto de saúde para pegar o remédio, porque sua aposentadoria o proíbe de comprar, e que muitas vezes está em falta.
Eu tenho pena daqueles que ficam nas filas nos hospitais para marcar uma consulta de triagem para daqui a três meses, e depois, durante a consulta, o médico pede exames, que só poderão ser feitos depois de seis meses por causa da espera da nova marcação.
Eu tenho pena daquelas pessoas que perdem tudo (o pouco que têm) em uma chuva, por um desmoronamento ou enxurrada.
Eu tenho pena de pessoas que passam anos procurando um emprego estável, e enquanto isso faz bico para sobreviver.
Eu tenho pena de muitas pessoas honestas que apesar de todas as dificuldades que passam, continuam honestas, por incrível que pareça.
Agora, dizer que tenho pena destes que se auto massacraram em uma prisão, que os mal acomodavam, porque não conseguiram manter-se conforme as leis vigentes?
Não.
Destes não tenho pena. 


13/12/2016

O melhor presente

Chegando o fim de ano. Natal, festas e presentes.
Eu me lembrei de alguns presentes que ganhei e decidi estabelecer qual foi o melhor.
Não o de melhor valor, mas o que mais me tocou.
Tenho lembranças de um gatinho de borracha. Eu deveria ter não mais que um ano de idade, e a borracha para massagear as gengivas quando a dentição aponta, é ótimo.
Não que me lembre de quando tinha um ano de idade, mas quando tinha dois anos sim. E eu ainda tinha o gatinho.
Quando tinha pouco mais de três anos, por um descuido, sobra ou sei lá o quê, ganhei uma calçadeira para sapatos. Ela tinha uma capinha de couro e um botão de pressão.
Quando eu amarrava uma toalha nas costas, tipo Batman, a calçadeira era a melhor arma que um super-herói poderia ter.
No Natal, após eu completar quatro anos, ganhei um triciclo. Tipo dois irmãos, bandeirantes, verde.
Que veículo maravilhoso. Usei muito, mesmo após o acidente.
Depois de mudar da Cidade Ademar, bairro na zona sul de São Paulo, meu pai ainda buscava os presentes nesta região, na Casa Palma. Famosa nos anos 1970.
Por pouco mais de um ano moramos em um sítio. Muitos foram os presentes que conquistei.
Aprendi a andar de bicicleta de duas rodas, a nadar e pular do trampolim de cinco metros.
Eu entrei na escola, andei a cavalo, enfim, ganhei a melhor infância que uma criança pode ter.
Mudamos para um sobrado no bairro Saúde, ainda em são Paulo.
Já nesta casa, ganhei uma bicicleta Monark, dobrável, e com ela a oportunidade de entrar em uma perua Kombi em movimento. E sem abrir a porta.
Ganhei galos e tornozelo inchado, mas não quebrei nada. A não ser a porta da perua.
Ganhei um gravador Aiko, quando entrei no ginásio, hoje chamado de ensino fundamental II.
Certa vez eu achei dinheiro no chão.
Era um valor muito alto, tanto que com um quarto do valor, eu me dei um banco imobiliário de presente.
Foi esta época que ganhei meu primeiro beijo. Não é bem verdade, pois este foi roubado.
Com o meu primeiro salário eu me dei uma máquina fotográfica. Era de plástico, mas tirava fotos de verdade.
Outro presente que me dei foi uma cama de madeira. Linda. Toda torneada na cabeceira.
Ganhei uma juventude invejável. E foi na época de ouro das discotecas.
O tempo passou e ganhei a chance de começar uma vida nova.
Agora a dois.
Ganhei dois filhos e uma vida muito confortável.
Eu percebi que o texto ficou mais logo do que queria, mas consegui identificar o melhor de todos os presentes que ganhei.
A lembrança de cada um deles.
É.
Este foi o melhor presente que alguém pode ganhar.
Boas festas.


15/11/2016

Experiência do Déjà vu

Em 1972 aconteceu o Watergate. Invasão do partido Democrata americano por pessoas ligadas à Nixon. Nixon caiu.

Neste mesmo ano aconteceu também o atentado terrorista, na Alemanha, onde 11 atletas israelenses foram sequestrados e mortos.

O Andraus, edifício comercial de São Paulo, ardeu em chamas matando 16 pessoas e deixando outras 300 feridas e milhares em estado de choque.

Um avião caiu na cordilheira dos Andes e 16 sobreviventes contaram sua história ao mundo, acabando em livro e filme.

Eu, na época com 10 anos de idade, junto a essas tragédias uma experiência descrita por uma professora, a qual eu reproduzo aqui:
Em uma caixa foi colocado um casal de camundongos, comida e água em abundância para o casal.
Este casal era colaborativo entre si, inclusive durante a primeira ninhada que foi de sete filhotes.
Em três meses, o número de indivíduos já era 21 e a quantidade de comida permanecia a mesma que no início da experiência, bem como a caixa tinha as mesmas medidas.
Não se via o mesmo compartilhamento, a mesma tolerância, o mesmo comportamento.
No quinto mês, já com 32 indivíduos, os machos adultos passaram a matar os recém nascidos, e as fêmeas se alimentavam destes cadáveres.
Doentes também eram isolados e apanhavam sem qualquer motivo.
Alguns camundongos matavam sem o menor motivo aparente.
Foi nos pedido, então, que em uma redação explicássemos a experiência.
No alto dos meus dez anos, eu não tive dificuldades de entender e explicar.

Em 2016, 44 anos depois eu consigo ver uma caixa enorme e redonda, camundongos com duas pernas se intitulando "racionais", e a perda de paciência e tolerância em grau avançado.


03/11/2016

Universo paralelo

Dizem, as publicações espiritualistas, e muitas outras metafísicas, que existem universos paralelos.
Pensando nesta ideia, posso, sem esforço algum, pensar em um Brasil paralelo possível.
Pense comigo; No lava-jato e outros processos com os acusados de todos os níveis.
Se mandarmos todos para a cadeia teríamos, sem esforço:
Alguns presidentes e ex-presidentes...
Alguns vice-presidentes e ex...
Alguns presidentes de Senado...
Alguns presidentes de Câmara federal...
Vários senadores...
Inúmeros deputados. Federais, estaduais e outro tanto de vereadores...
Governadores...
Prefeitos...
Corruptos e corruptores...
A maior dificuldade seria determinar qual é realmente, o paralelo, e qual o real. 


02/10/2016

Janela do Tempo.

Eu já comentei, algumas vezes, que moro de frente para um colégio estadual.
O Nelson Fernandes.
É inevitável que, ao menos cada dois anos, eu passe algumas horas observando meus vizinhos a caminho de seu ato patriótico.
Neste dia eu vejo o “Tempo”.
Já chamei minha janela de “janela do tempo”, justamente por este motivo.
Moro neste bairro há 35 anos, e atrás desta janela há 30.
Discretamente percebo as marcações desse “Tempo”.
Pessoas que eram jovens, e agora de cabeça branca.
Crianças, que agora têm crianças.
E outros que já eram velhos, são apenas mencionados pela ausência.
Na melhor das hipóteses, isto passa apenas por um registro, um reencontro.
Na pior, mais um fofoqueiro que cuida da vida dos outros.
Pouco sei do que fazem hoje.
Onde moram.
O quê fazer ou por onde andam.
Não. Não é este o objetivo.
A correria nem permite.
É somente um saudosismo gostoso.
O Tempo passa para todos.
Até para mim.
E minha janela é testemunha deste registro. 


19/09/2016

O julgamento (escrevi em, Setembro/2013) continua valendo

Encerrada esta etapa do julgamento do “mensalão”, muitos dos que conheço e leio se colocaram decepcionados e traídos. Eu não me senti traído porque para ser traído e necessário confiar. Eu não me decepcionei, pois já conhecia as figuras desta história e não tinha nenhuma expectativa.Claro que fiquei triste.Mas nenhuma atrocidade á lei foi cometida. Tínhamos onze ministros.Não foi um que refugou. Não foram seis.Foram onze ministros que debateram e fecharam questão com o tema.Após a votação todos concordaram. Todos os “ONZE”. Todas as pessoas envolvidas não estão lá por acaso.Muitas delas foram eleitas ou nomeadas por eleitos por nós.Se erramos temos que assumir que erramos. Temos que tentar consertar e o conserto pode ser demorado ou rápido. Se quisermos “demorado”, na próxima eleição ou “rápido” indo para as ruas agora.A minha dúvida é:
Será que realmente queremos?Eu não me lembro de uma passeata “contra a corrupção” que tenha tido mais que cinco milhões nas ruas, somos duzentos milhões.Alguns dirão:
A “máquina” cuida para que os outros milhões não saibam, não se manifestem.
Bem, então erramos novamente por não conseguir mostrar isto á eles.Não estou indignado porque os corruptos não pagarão, mas estou indignado porque muitos bandidos, públicos ou não, não pagarão. Muitos crimes que acontecem corriqueiramente não serão punidos. Muitos crimes que nós mesmos cometemos não serão punidos. Estou indignado porque não nos convencemos que fazer o correto,
apesar de mais difícil,
apesar de mais caro,
apesar de todos os pesares,
é o que deveríamos fazer,o correto.

11/08/2016

Este lugar.

Alguns acham que viemos para cá, para a terra, para cumprir nossa jornada.Estes “alguns” dão nome para ele lugar.
Chamamos apenas de terra.
Um planetoide sem graça.
Chamam de “paraíso”, de “fase”, de “inferno” e alguns até de “céu”.Tudo depende de crença.Isto aqui nada mais é que um pequeno asco.Calma lá.Não é por demérito que digo isto.Pense...Este é um lugar em que vivemos mal, respiramos mal, comemos mal, mas sujamos bem, desrespeitamos bem, destruímos bem.Está bem...Vai dizer que somos nós os culpados disto?Claro que somos.E, por não sermos evoluídos o suficiente, mantemos toda essa podridão.Acreditamos que tudo irá se resolver, apenas por varrer o lixo para a porta afora.Onde é fora?Estivemos, estamos e iremos nos destruir aconteça o que acontecer.Nossos antepassados destruíram seus próprios antepassados, assim como destruímos os nossos, e os próximos nos destruirão.Prestem a atenção devida.Enquanto estamos na “big” tv de LCD, nas redes sociais protestando, estamos sendo envenenados por nós mesmos.Viemos aqui para estamos e não para sermos, mas ainda não compreendemos isto.Sim, louco, mas real.

17/07/2016

Hoje não é o melhor dia para morrer.

Eu poderia morrer hoje, que morreria feliz.



Já fiz bastante coisa na vida.

Já tive muitas alegrias.

Já tornei realidade, muitos sonhos.

Vi meus filhos crescerem.

Vi minhas árvores plantadas darem frutos.

Meu livro está quase pronto.

Estou realizado.

Bem, agora que escrevo isto... Acho que da para fazer mais alguma coisa.

Tá bom. É egoísmo de minha parte, mas pensa bem.

Se eu morrer hoje, vou estragar o seu fim de semana em família.

Vou estragar a sua segunda feira, quem sabe aquela reunião importante...

Eu posso até aproveitar, que o dia está sobrando para mim, e curtir um pouco mais...

Assim não estrago o seu dia e, de sobra, aproveito o meu.

Veja. Sobrará um dia a mais para eu agradecer. Um dia a mais para você curtir.

Todos ganham.

Todos ficam contentes.

Combinado então.

Hoje não é o melhor dia para morrer.


26/06/2016

A escolha do parto não é uma questão de saúde, é uma questão comercial.


Recentemente foi baixada uma portaria da ANS (Agência Nacional de Saúde) que aumenta a quantidade de semanas, para 39, na escolha de cesariana.
Sendo assim, o médico e a mãe precisam assinar um “de acordo” para que aconteça antes desse prazo.
Mas por que essa preferência por cesárea ao parto normal?
Simples.
Totalmente comercial.
Em um parto programado, a mãe chega ao hospital com conforto e sem a correria de uma “bolsa rompida”. O médico resolve o parto em 25 á 30 minutos e parte para o próximo. Pode fazer até dez partos em um único dia, enquanto se depender da natureza poderá ser um único.
Mas o custo fica somente para o hospital. E a recuperação, para a mãe, claro.
Não adiantará portaria ou lei para mudar isso.
Uma boa tentativa seria os hospitais apurarem esse custo e dividir com o médico. Grande incentivo.
Em um parto normal a mãe fica, em média, um dia no hospital, e na cesárea, três.
E se esses prováveis dois dias fossem rachados com o médico?
O hospital ganha, o médico ganha e a mãe ganha.
Para um hospital público, quanto menor tempo de internação, maior será o a quantidade de atendimentos, menor o custo e maior a rentabilidade.
É tudo uma questão comercial, a saúde também ganhará, apesar de ser uma razão secundária.


03/04/2016

Seremos cada vez mais selvagens

Há muito tempo, quando eu ainda era jovem, em uma aula de ciências no colegial, hoje conhecido como ensino médio, assistimos a um vídeo de uma experiência, onde teríamos de debater relacionamentos.


Bem, a experiência consistia em ter seis camundongos em uma caixa de um metro por um metro. A cada dia, um novo camundongo era colocado na caixa.


Os camundongos viviam pacificamente na caixa, interagindo de forma cooperativa e carinhosa inclusive.


Após o vigésimo terceiro dia, ou seja, após o vigésimo terceiro camundongo colocado na caixa, ou seja mais uma vez, quando existiam vinte e nove camundongos no mesmo metro quadrado, os ânimos foram visivelmente alterados.


Troca de carícias entre os seis ou dez camundongos na caixa foram imediatamente substituídos por agressões gratuitas e repetitivas.


Colocando esta experiência nos dias de hoje é possível afirmar que a caixa chamada Terra começa a ficar apertada.


A cada novo humano que caminha neste planeta, estaremos agitando o ânimo dos camundongos.