Saga Derinarde II - Capítulos 081 á 120



Saga Derinarde II – Capítulo 081
Minhas saídas noturnas se tornaram frequentes e a jornada dupla começava a ganhar uma companhia, o cansaço.
Negociei com o pessoal da POLI as manhãs livres para eu cuidar da minha vida, do meu social e utilizava este tempo para dormir e descansar.
Com o tempo e costume, MEIOPARDO adotou algumas rotas que estavam gravados em sua mente, ou melhor, em seus chips.
Estes caminhos já eram tão automáticos que certa vez ele decidiu fazer de olhos fechados, e obteve sucesso. Tanto os percursos terrestres como os aéreos, a sim, pular sobre o topo de postes foi algo que MEIOPARDO adotou.
Certa noite, tranquila e de lua cheia, muito clara, Fernanda Furlan, fazendo a vez de grilo falante, comentou na mente de MEIOPARDO:
- Tem algo acontecendo na Avenida Paulista, vai para lá enquanto tento descobrir.
Em meio á ruas quase desertas e postes altos, dois minutos depois da mensagem MEIOPARDO estava na esquina da Paulista com a Brigadeiro.
- Estou aqui, onde e o que é? Perguntou para ninguém.
- É um tiroteio de bandidos e PM na Caixa Econômica, perto do Trianon. Fernanda parecia nervosa.
MEIOPARDO se deslocou para o local e como os postes de iluminação da Avenida Paulista são muito altos e a claridade forte, ninguém conseguiria vê-lo, á não ser os helicópteros que já rodeavam, porém estava preocupados com as atividades do solo e não um cara sobre o poste.
Observando atentamente a cena, como que gravando e utilizando os recursos de aproximação da central que Fernanda e Vtec montaram começaram a chegar instruções.
- São sete bandidos, dois com metralhadoras, três com fuzis e dois com pistolas automáticas. A polícia esta cercando tudo, você não tem como entrar sem ser visto. Finalizou Fernanda.
Comecei a olhar a fachada do prédio de vidros verdes da Caixa. E comentei.
- Procure uma rachadura nos vidros.
- Achei, no quinto andar, segunda da direita para a esquerda. Tem uma trinca, muito pequena no canto superior, mas o que você esta pensando em fazer? Perguntou Fernanda.
Antes de responder MEIOPARDO deu um saldo com tal força que o poste chegou a balançar soltando um dos holofotes que guardavam a grande lâmpada de vapor de sódio. O que de certo modo contribuiu para chamar a atenção de todos os presentes.
Não perceberam que a janela do quinto andar fora quebrada por algo ou por alguém que, agora, já estava dentro do prédio.

Saga Derinarde II – Capítulo 082
Desci em disparada até o segundo andar e tudo parecia calmo. Foi no primeiro andar que encontrei três meliantes agachados perto das janelas, observando o movimento e passando informações por rádio.
Cheguei, por traz, perto do primeiro homem, ele nem percebeu devido á atenção e estresse em que se encontrava, e com um golpe certeiro que aprendera nas aulas da mestra Elizete Costa acertei a nuca, fazendo-o dormir.
Da mesma forma com o segundo, ele chegou á me ver, mas também foi a ultima coisa que viu antes de dormir.
O terceiro homem percebeu minha presença e ameaçou correr, não houve tempo, as minhas pernas o alcançara em frações de segundos, incumbindo minhas mãos de fazê-lo cair nos braços de Morfeu.
- Ache algo para imobiliza-los. Falei enquanto olhava a imensa sala em que nos encontrávamos.
- Fio de computadores, há vários. Falou meu “grilo falante”.
Rapidamente estavam os três amarrados para presente.
Comecei a descer os degraus para o mezanino e térreo, onde realmente estava a bagunça.
Nenhum tiro estava sendo dado naquele momento, mas percebi que na parte mais clara do salão do térreo, embora estivessem com as luzes apagadas, a claridade da Avenida chegava á boa parte do salão, havia um corpo de bruços. Era um bandido morto.
Em outro canto, atrás de um balcão, um gemido forte de dor, quebrava o silencio que agora dominava, tanto dentro como fora do prédio.
Do mezanino, esquadrinhei, com os olhos, atenciosamente cada centímetro do que era possível e não possível de ver.
- Me posicione. Falei em voz inaudível para quem estivesse á centímetros de mim.
- Dos sete que vi lá de fora, consigo ver quatro agora. A voz de Fernanda era firme e objetiva.
- Nove horas, atrás da proteção do vigia, quatro horas, atrás do biombo com propaganda. Doze horas, parede da entrada principal e duas horas, sob o aparador na parede. Enquanto ela falava, eu ficava imóvel montando o ambiente em minha cabeça.
- O restante... Espere, o Vtec simulou o 3D do som capturado, tem um... Quatro horas, atrás do anterior, o que está gemendo está em sete horas e tem outro com ele, tem mais dois em onze horas sob o balcão dos caixas. Os detalhes passados por Fernanda fizeram um mapa em minha cabeça.
Agora MEIOPARDO tinha que agir.
Do ponto em que estava o melhor caminho seria saltar para trás dos caixas e pegar os dois primeiros e foi o que fiz.
Ao chegar ao solo, silenciosamente para não despertar a atenção dos demais, deflagrei um golpe certeiro no primeiro o que chamou a atenção do segundo, porém, antes que ele pudesse tomar qualquer atitude que seja meu pé alcançou sua mandíbula, fazendo-o adormecer.
Agachado, fui para o fundo do salão, na direção do gemido, lá encontrei o ferido e seu comparsa.
Antes que me visse, muito rápido, com o pé, chutei o fuzil que estava em sua mão. Ele não acreditou no que viu.
- Você é um menino muito mau. Disse-lhe baixinho antes de fazê-lo dormir com o golpe de AIKIDO.

Saga Derinarde II – Capítulo 083
E assim foram o quarto e quinto.
Faltavam três e eu sabia onde um estava, os outros dois tinha apenas uma ideia.
A cada silencio meu, um pequeno som era capturado por meus ouvidos, sejam eles de movimento ou apenas de respiração, era passado pelo chip em minha cabeça que por sua vez capturado pelo dispositivo criado por Vtec e Fernanda e transmitido pela antena atrás de minhas orelhas á central onde agora estavam meus anjos da guarda, que processavam o som em um programa de som 3D e a voz singela de Fernanda Furlan, meu “grilo falante”, me posicionava.
- Quatro horas á seis metros e trinta e dois centímetros.
Saltei, verticalmente, para cima em direção ao teto. Onde eu estava tinha um pé direito muito alto, este local ficava fora da marquise. Meus olhos quase que fotografaram o ambiente.
Ao tocar o solo, imediatamente, um segundo salto se seguiu na direção quatro horas, á seis metros e trinta e dois centímetros.
Ao descer ao solo novamente, minha mão já estava na nuca do meliante, o qual não esboçou nenhuma reação ao dormir.
Eu me retirei dali, caminhando alguns passos para trás.
- Vejamos. Comentei ao saltar novamente, só que desta vez mais baixo. A marquise impedia coisa diferente.
- Onze horas, vinte e dois metros e quatro centímetros. Mais uma vez a precisão do Software de Vtec e a voz de Fernanda.
Em uma corrida como que em corrida de obstáculos cheguei na frente do meliante, mas por um erro de calculo, estava na frente da arma dele também.
Ele disparou três vezes e dois impactos foram sentidos por MEIOPARDO, porém, como ainda estava na velocidade do impulso inicial, com um chute o braço do atirador foi quebrado em três parte, vim a saber depois, pelos noticiários.
Rapidamente procurei acertá-lo a fim de que não me causasse mais estragos.
Os tiros alertaram tanto o pessoal lá fora como o indivíduo que ainda restava dentro do salão, comigo.
Fiquei de pé para sentir meu corpo e verificar possíveis estragos.
Uma dor nas costelas, mas os olhos não acusavam nada vermelho ou algo que pudesse se assemelhar á sangue.
Mentalmente agradeci á Maria Teresa Aarão, Vtec Honda, Fernanda Furlan, Elizete Costa e outros, por estar bem e sem ferimentos.

Saga Derinarde II – Capítulo 084
O cara que ainda estava lá dentro, apavorado. Estava agora mais apavorado ainda, pois sabia que algum policial já adentrara ao prédio, e encostado nas paredes caminhava pelo salão apontando a metralhadora para todos os lados.
Algumas rajadas foram disparadas, mas foi a esmo.
Ele estava realmente irracional, porém não disposto a se entregar.
Sorrateiramente fui para a parte onde não era abrigada pela marquise. Eu queria ter mais área para agir.
Fiz alguns barulhos propositais para chamar a atenção do meliante.
A essa atura, a Avenida parecia uma festa, tamanha era a movimentação de policiais. Eles não sabiam o que estava acontecendo lá dentro, á não ser que tiros e mais tiros estava sendo disparados.
Quando já tinha o homem em meu campo de visão, saltei muito alto e em sua direção.
O homem, até me viu descendo sobre ele, mas seu cérebro foi muito lento em interpretar e entender o que era aquilo que vinha em sua direção.
Cai exatamente em sua frente, desarmando-o e agarrando-o pelo pescoço e braço.
- Quem é você? Você vai me matar? Ele perguntou ofegante e com os olhos tão abertos e incrédulos que por um momento pesei que fossem saltar para fora das órbitas.
- Sou o MEIOPARDO, e não vou te matar. Falei arrastando-o para uma mesa próxima onde peguei os fios de dois computadores.
Amarrei os pés, as mãos e amarei os pés nas mãos também, deixando-o deitado no chão.
Neste momento ouvi as portas de vidro quebrando. Era a policia invadindo e a minha deixa para sair.
Saltei para cima da marquise e corri para as escadas.
Foi fácil chegar ao quinto andar onde uma janela quebrada era a minha porta de saída.
Saltar para o poste da frente foi fácil.
Fiquei ali um bom tempo olhando a policia agir.
Parece que ninguém estava entendendo o que ocorrera.
O quê alguns dos homens faziam amarrados com fio de computador e dormindo, golpeados.
Os bandidos foram presos, mas a polícia estava atônita tentando entender o enigma.
Jornalistas e fotógrafos se misturavam á eles, pois o perigo já passara.
Um bandido que saíra algemado e acompanhado por dois policiais gritava.
- Era um “negão” que tinha escamas. O nome dele é MEIOPARDO, acho que veio do inferno! Sei lá.
Voltei para casa depois de um dia excitante.

Saga Derinarde II – Capítulo 085
Na manhã seguinte, ou não tão manhã assim, tipo onze horas, Aracy entrou no meu quarto anunciando:
- Aqueles dois maluquinhos estão aí.
Levantei meio sonolento e já entendi que quando Aracy falava de “dois maluquinhos”, só podiam ser Fernanda Furlan e Vtec Honda.
Os dois estavam na sala e Vtec com um aparelho novo na mão, ligando na tomada.
Acendeu um LED verde e mais nada.
- O que essa mente brilhante inventou agora, um aquecedor elétrico? Perguntei zombando de Vtec.
- Este é um sonorizador de múltipla frequência. Ele emite ondas de varias frequências e tamanhos, fazendo com que, sons que estejam num raio de cinco metros e tenham o ar como meio, fiquem distorcidos. Eu o chamo de silenciador. Terminou parecendo o final de um discurso para uma multidão.
Então eu o aplaudi.
- Ótimo, só espero que não toque “funk”! Continuei a zombaria.
- Não, não toca nada, aliás, é um aparelho para não deixar trafegar outras ondas de som. Se o pessoal, lá embaixo, colocou escutas aqui, nada chegará até eles. Terminou a explicação.
- Quer dizer que não precisamos mais daquela barulheira para falar? Que ótimo. Parabenizei Vtec.
- Na verdade era para ser um INTERLUX. Era para distorcer a luz, mais ainda não chequei lá, porém para a distorção do som está cem por cento.
- Acho que um dia você chega lá, Vtec, acredito muito em você. Disse isso com sinceridade.
Fernanda estava como uma daquelas ridículas sacolas amarelas e dentro havia pelo menos uns cinco quilos de jornais.
- Está vendendo jornal agora? Perguntei apontando para a sacola.
- Você está em todos os jornais, do país e alguns de fora também. Fernanda disse com um sorriso cúmplice.
Abrimos a sacola e começamos a ler juntos enquanto tomávamos o memorável café da manhã de Aracy.
“POLICIA INTRIGADA COM HOMEM QUE IMOBILIZOU BANDIDOS”;
“FANTASIADO DESARMA, SOZINHO, MAIS DE DEZ BANDIDOS FORTEMENTE ARMADOS”;
“O INFERNO DO LADO DA POLÍCIA?”;
“DEZENAS DE POLICIAIS, DOZE BANDIDOS E UM FANTASIADO”;
As reportagens faziam alusão á vingadores, justiceiro e até á extras terrestres. Estava tudo muito divertido.
Uma das reportagens era de um jornalista chamado Luiz Nobrega Prymo, que fizera com um dos meliantes.
O chefe do bando e mentor intelectual do assalto em depoimento á polícia disse:
“Um homem grande e negro, com escamas macias em todo o corpo, com uma força e rapidez descomunal, voo por todo o salão do banco e desaparecendo em pleno ar e reaparecendo na frente do bandido armado com uma submetralhadora. Desarmou-o como que tira um doce de uma criança. Identificou-se como MEIOPARDO, a nova ordem da cidade de São Paulo.”
Eu já ouvira este nome, Luiz Nobrega Prymo. Só não lembrava onde.

Saga Derinarde II – Capítulo 086
Terminado a leitura dos jornais, nós nos despedimos e cada um seguiu o seu caminho.
O meu claro, POLI.
Ao chegar á USP decidi fazer uma visitinha á minha tutora.
Dois andares acima e lá estava eu na antessala da Doutora.
Amanda de Paula estava saindo da sala de Elen com uma enorme pasta e pela cara tinha muito serviço á fazer.
- Bom dia Amanda, A Nazi está te dando trabalho, é? Compre um “LEXOTAN”, e ponha meio comprimido no café da manhã dela. Isso vai deixar VOCÊ mais relaxada.
Entrei na sala de Elen, ainda observando o sorriso de Amanda.
- Bom dia nobre senhora doutora superintendente Elen. Falei ao entrar, porém Elen nem olhou para mim, continuo a teclar em seu computador.
Fui para o canto mais afastado da sala onde ficava uma mesinha com café, chá, água e uns biscoitinhos.
Servi-me de um chá sentei no sofá e aguardei.
Elen terminou seu texto e veio ao meu encontro.
- O que você disse quando entrou? Elen falou enquanto se servida de água.
- Ãhn, eu? Eu disse que você fica bem de cabelo curto.
- Mas eu não tenho cabelo curto, aliás, nem as pontas do cabelo eu cortei.
- Então foi do esmalte novo, por que mudou?
- Eu não uso...  Seu tonto. Elen ficou decepcionada quando entendeu a brincadeira.
- Semana que vem iremos para o Canada, ficaremos três dias na Universidade de Toronto. Entregue seu passaporte para a Amanda. Elen anunciou e continuou.
- Estamos firmando um convênio com eles e você fará uma apresentação.
- Eu ficarei sentado em uma cadeira no palco, sem me mexer ou falar? Por que você não leva um canário?
Ah, claro, é capaz de o canário cantar. Fui muito irônico.
- Não, desta vez você fará umas graças. Pedi para Cássia Raquel preparar um número para você. Será uma apresentação em uma quadra. Vai saltar e correr. Essas coisas.
- Por falar em saltar e correr, você viu essa cara do jornal, parece que ele voa e desarmou um monte de bandidos. Falei para chamar a atenção de Elen.
- Isso é bobagem. Um bando de viciados que estavam sob efeito de algum alucinógeno. Até eu dava conta deles. Elen falou desmerecendo a importância.
Agora fui eu quem ficou decepcionado com a interpretação de Elen.
- Ah, tá. Vou lá, então. Vou aprender a saltar e correr com a Cássia Raquel. Quem sabe aprender a dar a patinha também. Tchau, hein. Saí da sala fazendo menção de dar a patinha, até atravessar a porta.
Passando pela antessala notei que Amanda estava no chão, de quatro, sob a mesa.
- Que foi Amanda, você caiu? Perguntei e já me abaixei ao chão.
- Não, não caí. Perdi meu brinco. Amanda falou levando a mão á orelha, agora nua.
- Me dá dois minutos que eu acho para você. Levantei e saí correndo até a sala cofre.
Chegando lá encontrei José Reginaldo e o grupo de teste.
- Liga ai que preciso fazer uma coisa. Falei á José Reginaldo.
- Hoje você vai...
- Liga aí, liga aí, depois a gente conversa, é rapidinho, liga aí. Interrompi o que José Reginaldo tentava falar e não parei enquanto ele não pegou o tablet.
- Volto já. E saí em disparada ao encontro de Amanda.

Saga Derinarde II – Capítulo 087
Na antessala pedi para Amanda se levantar e fiz uma varredura com os olhos e em segundos falei.
- Aqui está o danadinho. E como prêmio eu vou por na sua orelhinha. Levantei com o brinco na mão e fui em direção á Amanda.
Ela sorridente como sempre, ou até mais por ter recuperado seu brinco, entregou-me a tarrachinha.
É certo que tive alguma dificuldade em prende algo tão pequeno em outro menor ainda, haja vista que os meus dedos eram grandes e grossos, mas estar tão próximo de Amada era compensador.
Ela dava pequenos risinhos enquanto eu falava algumas brincadeiras.
O cheiro daquela mulher era formidável.
Estava quase acertando quando tudo foi ao chão novamente. Amanda dera um pulo junto á um grito meio gemido quando ouviu a voz de Elen.
- O que esta acontecendo aqui? A cena realmente era incriminadora, mas inocente.
- Pô Elen, eu já tinha enfiado, só faltava por atrás, e você desencaixou tudo. Não percebi o que havia falado, mas já havia falado.
- Amanda, se dê respeito. Este não é um lugar de brincadeiras. Via-se que Elen estava brava.
- Mas... Amanda ameaçou falar, mas eu não deixei.
- Calma Elen. A Amanda perdeu o brinco e eu estava recolocando, não tinha nenhuma brincadeira aqui. Abaixei e tornei a pegar as duas pecinhas, as quais coloquei sobre a mesa.
Apontei o dedo para o rosto de Elen e disse:
- Um dia você vai perder o brinco, na verdade os dois brincos e aí você vai entender. Falei mesmo para tirar sarro de Elen. Virei ás costas e fui embora.
Mas antes de sair, olhei para Amanda e disse.
- Não deixe a Elen por os brincos em você.
Amanda ameaçou sorrir, mas olhou para Elen e ficou muito séria.
Fechei a porta e desci.
- Pronto, não falei que era rápido. Eu me dirigi á José Reginaldo.
- Muito bem Cássia Raquel vai lhe passar instruções da apresentação. Deri, a Elen lhe falou do Canadá, não?
Fiz sinal afirmativo com a cabeça.
- Pois então podem começar. Terminou de falar e foi cuidar de seus afazeres.
Fomos para a quadra e Cássia Raquel me passou as sequencias. Fez algumas correções e estava tudo liquidado.
Estes chips faziam com que horas de um atleta olímpico se transformasse em segundo para mim. Claro na memorização dos movimentos e nas partes biônicas. Eu dava um duro danado para fazer os braços, troco e tudo mais que não era biônico acompanhar, por isso que tinha treinamentos diários.

Saga Derinarde II – Capítulo 088
Os exercícios diários foram feitos e informações coletadas.
Ao final Cassia Raquel se aproximou de mim com seu tablet.
- Deri, eu não estou entendendo uma coisa. Tenho coletado informações sobre o seu gasto energético a mais de mês, e pelas leituras feitas aqui, com o suplemento que você utiliza deveria estar duas vezes maior, o que faz fora daqui? Ela queria realmente entender.
- Como assim o quê faz fora daqui? Faço o que todo mundo faz, passeio, faço exercícios, danço, sexo, essas coisinhas...
Tentei ser convincente, mas não tinha argumentos.
- Tudo que faz enquanto não está aqui não tem a menor importância para o gasto energético, isso só ocorre quando os equipamentos estão ativadossssss...
Percebi uma nuvem negra sobre a cabeça de Cassia Raquel. Ela desconfiava.
- O José Reginaldo tem te submetido a treinos escondidos, é isso? Eu sabia.
Pensar rápido, você está ligado, pensar rápido, cadê meu grilo falante nessas horas.
- Bem, eu não deveria falar nada...
- Eu sabia, eu sabia, eu sabia. Cassia Raquel estava muito radiante por descobrir o que se passava, ou achar que descobriu. Eu só não sabia o quê ela havia descoberto, então, “dar linha na pipa” era a melhor ou única alternativa.
- É segredo e se alguém souber eu serei punido. Poxa vida como é que os atores enchem os olhos de lágrima, por mais que me esforcei não consegui, mas surgiu o resultado esperado.
- Ele nunca me fala nada, mas aposto que aquela “vaca” está por trás disso, aposto. Não está?
Como as mulheres são astutas em descobrir planos mirabolantes que nunca existiram.
Eu não tinha nada á falar que não comprometessem á mim ou a outrem, então meu silêncio corroborou para a fantasia na cabecinha de Cassia.
- Você pode ficar tranquilo, eu não vou comentar nada com ele nem com ninguém, eu só queria ter certeza. Eu já sabia. Pois não era compatível o gasto com a recomposição. Que canalha em não me falar nada.
Cassia até parecia aliviada. Muito brava, mas aliviada por descobrir “a verdade”.
- Vou fazer de conta que nada sei. Se eles acham que me enganam a mim, eu é que vou engana-los.
Bem! Em cinco minutos, vi uma mulher saudável de corpo e mente ter um ataque de curiosidade, outro de lucidez, mais ciúmes, ira, calmaria, entendimento e lucides novamente.
Deve ser normal.
Deixa pra lá.
Eu saí de lá, como era rotina, acompanhado de Paulo Fernando Rodrigues e José Ricardo Madson de Paula. Meus fiéis escudeiros.
Já chegando próximo á minha casa, ao se aproximar do portão, os dois começaram a comentar assustados.
- Ela está lá novamente, alerte a equipe. Disse Paulo Fernando que estava ao volante.
Estiquei o pescoço e entre os bancos da frente do carro que estávamos avistei o inconfundível Mustang Azul.
- Pessoal. Vocês podem até alertar a equipe, mas podem me deixar com a gata que o cavalo é domado.
Ambos olharam para mim a fins de entender a piada.
- Mustang, cavado, domado, cavalo domado. Para lá que eu me viro.
Estávamos parados á uns oitenta metros da entrada até que José Ricardo recebeu uma aprovação por rádio e deu sinal para que Paulo Fernando avançasse.

Saga Derinarde II – Capítulo 089
Paramos do lado oposto da rua. Desci pelo lado da calçada, passei por trás do carro dos seguranças e pela frente do Mustang Azul.
A película escura nos vidros impedia de ver se alguém estava dentro, mas ao colocar o pé na calçada ouvi o sistema de travamento das portas sendo acionado.
Este modelo de Mustang não tem maçanetas, a simples aproximação da mão no local onde supostamente deveria existir uma maçaneta á abre, e foi o que aconteceu.
Entrei no carro e outra surpresa, aliás, outra bela surpresa.
Fernanda Galindo novamente fantástica. Cabelos esvoaçantes com apenas uma faixa, também azul, no centro da cabeça á prende-los, uma maquiagem leve, porém um batom com cor de pecado, um vestidinho minúsculo que sentada naquele carro baixo ficava mais “minúsculo” ainda e exatamente da cor do carro.
Nós nos cumprimentamos com beijos nas faces e o perfume que ela usava fez-me não querer mais parar de beija-la.
Fui o primeiro a falar.
- Que ventos á trás aqui? Uma proposta dos seus chefes?
- Não, hoje eles nem sabem que estou aqui. A proposta é minha. Fernanda falou confiante.
- Sou todo “ouvidos”. Eu estava curioso para ouvir.
- É que eu estava querendo muito dançar e como não conheço muita gente aqui no Brasil, achei que você poderia ir comigo. Topa, ou tem algo mais importante para fazer? Foi muito meiga nesse finalzinho do pedido, como que me impedisse á dizer não.
- Bem, eu tinha que salvar a cidade desse banditismo todo que tem por aí, mas não acho que seja tão importante assim. Você espera eu tomar um banho?
Fui fingido, mas não menti, aventura existe em todos os lugares, hoje, escolhi esta.
- Vamos subir e você me espera na sala, ou na cozinha, ou escolhe outro lugar para me esperar. Rimos com malícia.
Subimos.
Coloquei uma música e mostrei a geladeira.
Tinha sucos, minha vida ultimamente em termos de bebidas era somente sucos.
Mostrei também uma garrafa de Black Label com poucas doses servidas para amigos que vinham em casa de vez em quando.
Fernanda abriu uma água com gás e sentou-se ao sofá enquanto entrei no banho.
Um banho rápido e em vinte minutos estava na sala com Fernanda.
- O que você gosta de dançar? Perguntei para identificar o estilo.
- Na Europa tem muito, House, Jazz, Eletrônica, mas estava pensando em algo mais Brasil, mais Latino, mais Caliente. Falou com o bico da garrafa nos lábios carnudos e vermelhos.
- Que tal, Salsa? Perguntei com uma casa na mente.
- Boa. Salsa é bem dançante. Topo. Fernanda falou entusiasmada.
- Outra coisa, vamos deixar seu carro aqui e vamos com meus amigos. Foi quase uma ordem e Fernanda não resistiu.
Liguei para os camaradas lá embaixo e olhando-os da janela não tive dificuldade alguma em convencê-los, aliás, estaria facilitando o serviço deles.
Já no carro, apresentei Fernanda Galindo á Paulo Fernando Rodrigues e José Ricardo Madson de Paula e seguimos para uma “boquinha”. Eu estava com fome e era muito cedo ainda, não passava das nove horas.

Saga Derinarde II – Capítulo 090
Paramos na Hamburgueria Nacional, ali na Leopoldo, Itaim Bibi. O hambúrguer de lá é fantástico e Fernanda adorou. Fazia biquinho em cada mordida.
Falamos do projeto e dos patões dela, mas tudo superficial, nós não estávamos á serviço. Conversamos bastante e bem depois das dez horas decidimos, aliás, eu decidi ir para o Rey Castro, na Vila Olímpia.
Uma pequena fila se formava na entrada, nada muito demorado e logo estávamos dentro.
Rey Castro é um bistrô com pista de dança e uma decoração exuberante que nos transporta ao caribe. Na entrada drinks exóticos e um balcão exibem e comercializam charutos cubanos.
O som da Salsa nos contamina logo na entrada.
As mesinhas em ferro fundido ficam a disposição para um bate papo. Longe do “burburinho” e da música, permite uma conversa tranquila.
Sentamos ali para adaptação.
Enquanto Fernanda ficou á mesa fui ao bar e pedi dois “mojitos”.
Bebida á base de Rum, Limões, Açúcar e Hortelã, servido em taças baixar e largas com açúcar em sua borda.
Muito refrescante, apesar do álcool do Rum.
De onde estávamos víamos as cores da decoração, o mezanino e parte da pista de danças onde casais rodopiavam ao som da música vibrante.
- Era isto que pensava? Perguntei esperando uma aprovação.
- Exatamente isto. Exatamente. O sorriso largo e olhos brilhantes concordavam com a resposta proferida por aqueles lábios.
Enquanto saboreávamos os “mojitos” Fernanda contou-me parte de sua vida.
Quando pequena filha de diplomatas brasileiros viajou muito, conheceu muitos países e muitos povos. Tinha boas lembranças do Brasil, mas eram apenas lembranças.
Gostava muito de nossa hospitalidade, humor e esperança.
Ela se divertia ao falar que um Europeu era capaz de se suicidar por uma maça enquanto que o povo brasileiro lutava até mesmo lutas perdidas.
Terminamos as bebidas e fomos para a pista.
Abracei-a junto ao corpo, coxa com coxa e começamos a dança.
Rodopiamos, separamos, juntamos, e fizemos tudo que a Salsa nos permite fazer. Foram quatro ou cinco musicas seguida de muita animação, até que uma musica lenta iniciou-se.
Ambos transpirando e ofegantes, nos acomodamos um ao outro. Sua respiração se confundia á minha e seu corpo magnifico era um casamento perfeito ao meu. Aquela coisa de côncavo e convexo nunca foi tão clara para mim como o que acontecia neste momento.
Fernanda tinha uma fisionomia de alegria e contentamento como as meninas mais novas que ganham uma boneca de natal.
Este nosso transe durou pouco, pois como qualquer musica latina, aos poucos vai acelerando e logo estávamos novamente a bailar.
Entre musicas e “mojitos” nos divertimos até ás três da manhã quando décimos partir.
Estávamos alegres e satisfeitos com a dança.
Saímos e fomos para casa.
Quem nos levou para casa foram Regina Claudia Cantele e Paulo Rosa, haja vista que o turno de Paulo Fernando e José Ricardo havia terminado.
Subimos, pois depois de tantos “mojitos” Fernanda necessitava uma parada estratégica.
Banheiro.

Saga Derinarde II – Capítulo 091
Enquanto Fernanda estava no banheiro, decidi fazer um suco hidratante que uso para minimizar minha cede quando saio em minhas vigílias solitárias.
A base era abacaxi, hortelã e uma terceira fruta que variava conforme a oferta.
Desta vez foram mexericas.
Fiz uma jarra coloquei em uma bandeja e juntei copos e levei para a sala.
Coloque em uma mesinha de rodas que tenho para estas ocasiões.
A pequena bolsa de Fernanda estava sobre esta mesinha e ao remove-la percebi um peso excessivo.
Por que uma bolsa de mulher pesaria tanto?
Será que ela carrega um vidro de perfume.
Não sei por que a curiosidade estava tão aguçada esta noite, poderia ser o excesso de “mojitos”, mas resolvi verificar.
Abri delicadamente a bolsa, com especial atenção á porta do banheiro. Não queria ser flagrado nesta desagradável situação.
Encontrei algo que não queria ter encontrado.
Havia uma arma em sua bolsa.
Fechei imediatamente, e coloquei a bolsa sobre o sofá.
Pensamentos á milhão.
“O que uma pessoa que sai para dançar e se divertir estaria fazendo com uma arma?”
“O que uma pessoa do bem faria com uma arma?”
“O que esta pessoa estaria querendo de mim?”
Fernanda chegou á sala e se serviu do suco que eu preparara.
- Uma delícia. Acho que tomamos muito morritos. É assim que se fala, morritos? Fernanda falou sem imaginar o que eu sabia.
- É sim, se fala morritos. Sem resistir mais tempo disparei.
- Notei que sua bolsa é muito pesada. O que carrega nela, ouro?
- Quase. É minha arma dourada. Falou com a maior naturalidade tirando-a da bolsa.
- É uma Colt 45 automática com 25 balas no pente, que dispara tudo isso em dez segundos. Veja. Entregou em minhas mãos.
Era uma arma toda dourada e seu cabo tinha um entalhe que imitava pedras de brilhantes.
- Realmente é bonita, mas, mas, porque uma mulher como você precisa disto?  Falei devolvendo a arma que ora estava em minhas mãos.
- Bem. Eu vou á muitos lugares, em muitas situações. Existem situações que preciso me defender. Olha, acho que você não vai entender, não importe o que fale. Isto é ferramenta de trabalho.
Falou para colocar um ponto final. E foi bem sucedida, não falamos mais nisto.
Servi um pouco mais de suco e sentei ao seu lado no confortável sofá.
Aproveitei a proximidade e beijei-a. Ela parecia gostar, mas em determinado momento me afastou com a mão que estava livre.
- Não vai dar certo. Ela comentou, porém desconfiei que fosse mais com ela mesma que falava do que comigo.
- O que não vai dar certo? Insisti no beijo, mas fui prontamente barrado.
- Olha. Você é legal, é bonito, sensual, mas não. Eu estou, mesmo, muito excitada, mas não e não. Algo sóbrio tomou conta daquela mulher.
- Não posso permitir que nada e nem ninguém interfira em meu trabalho, e você é meu trabalho. Quem sabe depois que terminar. Ela jogou uma piscina de agua fria sobre ambos.
- Entendo e acho justo. Más eu não vou desistir. Eu me servi de mais suco e continuamos a conversar por mais meia hora.
- Acho que já estou bem para dirigir. Vou embora. Fernanda se levantou de um só pulo.
Nós nos despedimos e ela foi embora.
Eram quase cinco da manhã e fui descansar um pouco.

Saga Derinarde II – Capítulo 092
Na manhã seguinte resolvi ligar para Maria Tereza Aarão, pois deixaria a roupa de MEIOPARDO para manutenção, pois com tiros e atividades frequentes era bom mantê-la em perfeitas condições.
Ela estava no ateliê, então coloquei a roupa em uma mochila e segui para lá.
Entreguei a roupa á ela dizendo que a roupa estava cumprindo o seu papel.
- Foi você, não? Ela me perguntou olhando para a roupa.
- Do quê você está falando? Não estou entendendo nada. Não sabia do que ela estava falando, mas fazia uma ideia.
- O cara que anda á noite apavorando os bandidos, que esteve no Assalto na Avenida Paulista, é você não e? Ela tinha uma enorme convicção e eu não sabia como á convenceria do contrário.
- Vou trocar todas as placas de polipropileno e colocar placas de carbono, é mais resistente e leve. Não será qualquer metralhadora que o derrubará. Preciso de cinco dias, pode ser.
- Claro.
Não tinha nada mais á acrescentar e cinco dias é um período bom para descanso.
- Fique tranquilo, nunca direi nada.
Apertei-lhe á mão em sinal de que aceitava sua discrição.
Saí e caminhei até o café onde tomara café com Fernanda.
Enquanto tomava meu cappuccino tranquilamente avistei em uma mesa do café um rosto meio familiar.
Fui até a mesa em que ele fazia anotações em seu tablet e perguntei:
- Você não é o repórter que cobriu o assalto na Caixa?
- É, sou eu.
Olhou-me enquanto respondia e voltou ás vistas para o tablet.
- Achei muito legal a reportagem...
Percebi que não estava chamando a sua atenção.
- Mas é tudo mentira. O cara não é assim como você falou.
Se eu queria chamar a atenção dele, agora era toda minha.
- Você o conhece? Você sabe quem ele é?
Ele parou de respirar enquanto aguardava minha resposta.
- Não. Não sei, mas já o vi.
Ele voltou á respirar e voltou os olhos para o tablet.
- Eu já conversei com ele.
Capturei-o novamente. Desta vez ele se posicionou na cadeira abriu uma pagina de texto no tablet e me percebeu.
- Meu nome é Luiz Nobrega Prymo e escrevo para um grande jornal, se você me contar tudo que vocês conversaram eu ponho seu nome no jornal e seus amigos lhe pedirão autógrafos, o que você acha?
- Acho que é a coisa mais babaca que um jornalista pode dizer.
Desta vez ameacei me retirar e ele me agarrou pela manda da camisa.
- Não, espere aí. Eu estava brincando. Eu quero muito saber quem é esse cara? Como ele é? O que ele faz.
Sente aí.
Sentei-me e começamos a conversar.
- Eu não sei quem é o cara, mas sei que ele não voa como sua reportagem falou.
- O bandido disse que ele voou e eu achei que venderia assim, e foi o que aconteceu. Como você o conheceu?

Saga Derinarde II – Capítulo 093
- Em uma noite que voltava para casa, eu vi um vulto na ponta de um poste. Ele salta de poste em poste.
Fui bruscamente interrompido pelo reporte.
- Escuta aqui engraçadinho, estou fazendo um trabalho sério e não venha com essas brincadeiras.
- É sério. Ele tem uns dotes especiais. É capaz de dar saltos imensos, consegue correr muito. Vamos fazer assim: Eu conto e você anota depois decida o que fazer. Quem disse que ele voava foi você, não eu.
- Tá bom, conta. Conta...
- Ele se chama MEIOPARDO, pois consegue atingir metade da velocidade de um Guepardo, salta muito alto, e tem uma pele especial que é muito resistente.
É lógico que alguma coisa eu iria exagerar, sou humano.
- Ele é um herói solitário e passa as noites vigiando a cidade.
- E disse que os bandidos têm que o temer ou sua fúria virará contra eles.
Achei que ficaria bonito isso publicado.
Em meio á minhas explicações era interrompido por perguntas:
- Quantos bandidos ele já matou?
- Isso ele não disse, mas não acho que ele mate bandidos, ele os desarma.
- E você sempre o encontra?
- Algumas vezes, se você quer encontra-lo tem que andar nas madrugadas, olhando para o topo dos postes.
Ficamos quase três horas conversando e ao final me deu um cartão com seu endereço eletrônico e uma câmera fotográfica.
- Olha, fique com esta câmera e para cada foto que você me enviar e te pago mil reais.
- Outra coisa, qual o seu nome para eu colocar como fonte?
Ele queria fechar a entrevista para que pudesse sair na edição de amanhã pela manhã.
- Nome? Não, nome não. Eu quero ficar anônimo. Não quero que ninguém peça meu autografo como você insinuou no início.
- OK. Não publico, mas me dê seu nome e telefone, para lhe encontrar e...
- Meu nome é Zé e eu é que te procuro quando tiver algo a dizer ou a mostrar. Você nunca me procura, feito?
- Está bem. Mas Zé? Zé do “quê”? Precisa uma identificação e Zé não identifica ninguém.
Achei que estava na hora de tirar uma da cara dele.
- Como não, todos os meus amigos Zés eu seu quem são. Mas para você vai ser Zé do MEIO. E só.
Falei já me levantando.
- Zé do MEIO, que MEIO?
- Ô repórter burro. MEIOPARDO, Zé do MEIOPARDO, Zé do MEIO. Entendeu ou quer que desenhe?
Ele anotou no tablet dele “Zé do MEIO”, e quando retornou a visão para mim para perguntar algo mais eu já havia me retirado da mesa, do café e da rua, pelo menos de sua vista.

Saga Derinarde II – Capítulo 094
A voz tradicional e conhecidíssima nos alto falantes anunciava:
- Senhores passageiros da AIR CANADA, com destino á Toronto, dirijam-se ao portão 17 para embarque imediato e boa viagem.
Estávamos a Elen, José Reginaldo Ramos Ramos, Cássia Raquel Carvalho, Alex Baba, Ricardo Regis Lima, Eduardo Soares e eu, no saguão do Aeroporto de Guarulhos quando a voz anunciou.
Desta vez não teríamos o privilégio do jatinho privativo.
Embarcamos e ao meu lado sentou-se Eduardo Soares.
Ele me explicava os detalhes do novo software de segurança que aposentava todos os outros equipamentos de rastreamento.
- Veja isto. São dois satélites simultâneos que recebem o sinal e não bastasse isso, as torres de tecnologia celular complementam. Eduardo estava entusiasmado com o novo brinquedo.
- Quer dizer que desta maneira eu nunca desapareço da sua tela? Eu quis parecer interessado.
- Nunca. Você nunca será invisível. Eduardo Falou confiante.
Imaginei o que ele diria se soubesse sobre o MEIOPARDO. Mas ele pensando assim, com essa confiança, era muito bom.
A viagem foi tranquila apesar de cansativa. São dez horas se tudo correr bem, e nesse tempo fizemos duas reuniões, duas refeições e vários cafés.
Não sei se foi por causa de estarmos em um avião, mas participei mais das atividades que teríamos no Canada.
Quem era o público?
Quais os principais personagens?
Quem deveria dar mais atenção?
Quem deveria evitar?
Elen dava uma aula de estratégia para todos nós.
Eu entendia um pouco mais de como aquela mulher chegou aonde chegou.
Falaram, também, Eduardo e Cassia Raquel.
Eduardo repassou para o grupo o que já tinha me explicado sobre segurança, satélites e sinais e Cassia Raquel repassou as séries que eu apresentaria, pois como já fora dito, desta vez não ficarei sentado em uma cadeira no centro de um palco.
Em determinado momento, após Eduardo e Cassia Raquel falarem, Elen dirigiu a palavra á mim:
- Deri. Cem por cento disso estão em suas mãos. Tanto na segurança como na apresentação é de você que dependemos. Ela falou muito séria.
- Entendido. Achei que desta vez não caberia nenhuma piada.
O sinal de “apertar o cinto” acendeu e o comandante da aeronave anunciava que estávamos em manobra de pouso.
Toronto estava com temperatura agradável e as árvores e jardins estavam floridos. Era primavera no hemisfério Norte.
Fomos para o Trump International Hotel. Aquele grande da Bay Street com Adelaide Street West.
Era final de tarde decidimos fazer um tour pela cidade. Fomos á pé, pois tudo estava próximo.
Entramos em diversas lojas, passeamos no Totonto Sculpture Gardem, o que me fascinou muito. São esculturas dispostas em um jardim com muita harmonia e graça.
Voltamos para o hotel, comemos alguma coisa e nos dispersamos. Alguns para os quartos outros percorreram o hotel, que é muito grande. Eu decidi dar mais uma volta. Minha vida noturna parece que me chamava para as ruas.
Avisei á Eduardo de minhas intensões e ele não fez restrições. Avisou que não iria comigo, mas ficaria de olho em seu monitor.
Toronto é igual á qualquer outra cidade grande do mundo. Guardado as proporções, o dia e a noite são diferentes.

Saga Derinarde II – Capítulo 095
No centro não avistei mendigos ou miseráveis, mas um grande número de desempregados era visível tanto de dia como á noite e á noite eram mais notados, pois o movimento de pessoas era menor.
Eram grupos de três ou quatro a conversar em esquinas, músicos que sentavam na calçada tocando instrumentos á espera de uma moeda, ou simplesmente caminhando á esmo pelas ruas bem iluminadas, mas quase desertas.
Caminhei muito esta noite, mas como Deri. MEIOPARDO tirou o dia de folga, MEIOPARDO estava pensando.
Eram três horas da manhã quando o meu celular tocou.
- Cara, você não dorme? Eduardo falou ao telefone parecendo irritado.
- Desculpe-me Eduardo. Já estou voltando.
Até entendi a situação de Eduardo.
Ele não tinha equipe.
Ele era responsável por minha segurança vinte e quatro horas por dia.
Voltei rapidamente ao hotel e fui descansar.
Na manhã seguinte, por voltas das nove horas o interfone do quarto toca.
Atendi e quem falava do outro lado era José Reginaldo.
- Deri, temos que estar ás dez horas na Universidade.
- Ok. Estou descendo. Falei enquanto levantava.
Um bom banho pela manhã desperta qualquer um, e em vinte minutos estava fazendo meu desjejum no imenso restaurante do hotel.
Enquanto tomava café, Eduardo se aproximou e sentou-se á mesa.
- Não vai comer, está ótimo. Falei com ele quase de boca cheia.
- Já tomei meu café. Eu acordo cedo, por isso não estou acostumado a dormir tarde. Falou se desculpando por ter me chamado de volta na noite que se passou.
- Eu já sou diferente. Sou notívago. A noite para mim deveria ser permanente. As coisas á noite são mais reais. São mais intensas. E continuei sem perceber que estava abrindo meu coração.
- De dia, as pessoas se fantasiam com uma roupa mais bonita, com orgulhos mais latentes, com medos do que vão dizer, do que vão pensar. Já á noite as pessoas se liberam para as verdades, sem vaidades e sem ressentimentos.
- Á noite as pessoas são mais pessoas e desde as mais humildes até as mais afortunadas, o comportamento é o mesmo,
Parei de falar, pois coloquei um enorme pedaço de quiche de Shiitake na boca.
- É Deri. Eu nunca pensei desta maneira, mas também nunca caminhei nas madrugadas como você faz. Por enquanto estou na turma que se fantasia para o dia. Eduardo falou pensando no que ouvira.
Limpei a boca com o grande guardanapo de linho bordado, virei um último gole de café que ainda restava na xícara e disse.
- Estou pronto para pular, correr e faze acrobacias. Vamos?
Nós nos levantamos e fomos em direção á porta principal do hotel.
No caminho nos aguardavam Cássia Raquel, Alex Baba e Ricardo Regis no saguão de entrada.
- Onde estão Elen e José Reginaldo? Perguntei olhando para os lados na esperança de encontra-los.
- Já foram mais cedo. Somos só nós. Respondeu Alex Baba.
- Então vamos? Sugeriu Eduardo.
Fomos para frente do hotel onde uma van nos aguardava.
Na porta um mestre salas. Um cicerone nos aguardava.

Saga Derinarde II – Capítulo 096
Em um inglês formal e impecável se apresentou.
- Eu sou Raphael dos Santos Lima. Bem vindos á Universidade de Toronto. Estou á seu inteiro dispor.
Entramos e mal me ajeitei na confortável poltrona paramos.
Na verdade estávamos á umas doze quadras da Universidade. Seguindo pela Avenida das Universidades encontramos o Queen´s Park, contornamos e chegamos.
- Na volta irei á pé. Comentei com os companheiros.
Uma comitiva de quinze á vinte pessoas nos aguardava.
Eles carregavam enormes maquinas de fotografia e filmagem, microfones e blocos de anotação nas mãos.
Raphael, antes de abrir as portas informou naquele inglês de lordes.
- Isto não é a imprensa, embora pareça. São alunos da universidade e seus centros acadêmicos fazem questão de saber tudo que acontece por aqui. São interessados e participativos.
- Igualzinho no Brasil. Quando um cachorro faz cocô na calçada, publicamos o nome dele, a raça, se tem ou não pedigree. Acredite-me. Falei em zombaria, mas Rafael parece não ter entendido a piada e desconfiou que fosse verdade.
- Não chegamos á esse ponto ainda. Comentou Raphael.
Nós saímos da van e uma enxurrada de perguntas e fotos nos alcançou.
- Who is Deri?
- Who is a SIBORG?
- Who is a future´s mem?
Eu me apresentei á eles e como já tinha meia dúzia de respostas fornecidas pela equipe e decoradas respondi as perguntas que se encaixavam nestas respostas, as demais eu repetia: “são assuntos que serão apresentados na palestra”, e consegui agradar á todos. Pelo menos foi o que achei.
Uma bonitinha, que não tinha filmadora, máquina fotográfica ou bloquinho nas mãos foi a última á perguntar e para mim, foi a melhor pergunta.
- What you go make this nigth?
Pedi, com as mãos, silêncio á aquela plateia disforme e ruidosa.
- Qual o seu nome? Perguntei olhando nos lindos olhos verdes que havia me feito a pergunta.
- Denise Gabriel. Respondeu para que todos ouvissem.
Voltei á pequena multidão e respondi:
- Eu vou levar a Denise Gabriel para beber um “Maple Syrup”. Respondi para ver a reação dela.
As pessoas presentes aplaudiram e ovacionaram.
Denise que era muito branquinha ficou rubra, abriu um sorriso envergonhado, acho que não esperava tal resposta.
Encerrada a fase de entrevistas fomos para o auditório.
Entramos e fiquei encantado com o tamanho. Muito grande e muito magistral.
A palestra começou com apresentação do projeto, filmes e slides mostravam uma retrospectiva das deficiências humanas e evoluções.
Foram quarenta minutos que, a meu ver, tudo conversa fiada.
Até o inicio de minha apresentação o pessoal da palestra estava fascinado, porém quando comecei a apresentação, faltou o pessoal babar.
Dei três saltos, duas corridas e algumas piruetas. Foi o suficiente para ter aplausos por dois minutos ininterruptos.
Os professores que estavam nas primeiras fileiras cochichavam uns nos ouvidos dos outros.
Era um furor.

Saga Derinarde II – Capítulo 097
Passada a apresentação, responderam-se algumas perguntas e estava encerrada a palestra.
Fomos para a van. Nosso destino seria o hotel.
Á saída, Denise estava na porta. Peguei-a pela mão e entramos na van.
A van saiu pela avenida da universidade.
Perguntei á Denise se havia assistido á palestra se havia gostado.
- Crazy!, Veri crazy. Repetia varia vezes.
Não demorou e a van parou em frente ao Tump International. Descemos e o pessoal entrou.
Denise e eu fomos dar uma volta nas imediações.
Era cedo e nada tínhamos para fazer durante o dia.
Andamos nos parques das imediações, lojas e até de bonde andamos.
Fomos até a torre de Toronto. A terceira mais alta do mundo.
Fizemos uma pausa para o almoço.
Durante o almoço, Denise contou um pouco de sua vida e eu da minha. Claro.
Denise vem de uma família tradicional Canadense, que há mais de cento e cinquenta anos migrou dos Estados Unidos para Toronto á fim de se estabelecer em uma cidade nova.
Falou de seus gostos e de sua rotina. Com vinte e três anos estava no terceiro ano de engenharia genética.
Gostava muito do que fazia, porém se dedicava mais ao teatro que á disciplina.
Dizia que estudar na faculdade era muito fácil e o teatro lhe ensinava a abrir a mente para novas possibilidades, novos caminhos.
Após o almoço fomos conhecer o Royal Ontário Museum e para isto você não precisa necessariamente entrar em um museu, basta entrar na estação de metro mais próxima do museu.
Esculturas Egípcias adornam a estação. Muito bela.
A tarde passou muito rápido, pois no divertimos muito.
Já no início da noite fomos para um pub e lá Denise me apresentou colegas. E formamos um grupo de seis. Conversamos bastante sobre hábitos e costumes, de Toronto e São Paulo. Desfizemos alguns mitos e nos entrosamos bastante.
Saímos para outros dois pubs e conhecemos mais gente.
Conforme prometera bebemos o tal Maple Syrup, o qual eu confessei não ter gostado muito.
Um tipo de licor muito doce e sem um sabor marcante.
Continuamos na farra até uma e meia da madrugada. O pessoal se dispersou e ficamos só, Denise e eu.
Levei-a para casa.
Era próximo, alias a impressão que tive de Toronto é que tudo é próximo.
Denise morava em uma grande casa e aquela hora que chegamos, faltando pouco para as duas horas, sua avó materna assistia TV na sala.
Fiz menção de partir ao deixa-la na porta, mas ela não permitiu insistindo que entrasse.

Saga Derinarde II – Capítulo 098
Conheci sua vó muito simpática que assistia á um filme em preto e branco na tv moderna. Dizia que aquilo á fazia voltar no tempo.
Fomos para a cozinha onde bebemos suco de frutas.
Conversamos por bastante tempo até que Denise foi até a sala e certificou-se que sua vó havia subido para o quarto.
Voltou á cozinha, mas desta vez estava nua.
Tinha um corpo escultural devido á ginastica e aulas de dança. Tudo em seu lugar, firme e proporcional.
Tentei resistir, pois estava impactado. Esperava algo, mas não tão imprevisível como o que estava ocorrendo.
Por mais que tentasse, não resisti e entreguei-me á situação.
Transamos na pia, na mesa e até sobre o fogão. Sorte nossa que não termos usamos antes.
Não conseguimos para na primeira, e continuaríamos muito mais não fosse meu celular tocar lá pelas quatro horas.
Era Eduardo querendo notícias.
Eu atendi ao telefone informando que já estava á caminho, porém como estava longe ainda demorei algumas horas.
Continuamos até que pássaros cantavam na árvore da frente. Era de manhã.
Nós nos despedimos e fui para o hotel.
Cheguei á porta de Eduardo ás seis e meia, bati e ele atendeu.
- Pode ir dormir. Falei e fui para meu quarto. A porta se fechou á minhas costas.
Acordei por volta de onze horas e apesar de dormir pouco estava animado.
Liguei para a portaria do hotel para saber de algum recado, mas nada foi informado.
Fui para a academia, treinei um pouco, quase uma hora e voltei para o quarto.
Pretendia tomar um banho e descer para um bom café da manhã.
Ao entrar no quarto, Elen estava á minha espera.
- Fiquei sabendo que você anda fugindo á noite. Nós não estamos aqui á passeio. Percebi que não era isto que a incomodava.
- Enquanto eu estiver fazendo o que vim para fazer, não, mas o tempo que sobra, sim, é passeio.
- Eu só me preocupo com a sua segurança. Insistiu Elen.
- Eu estou seguro. Falei enquanto entrava no banheiro.
Não fechei a porta e tirei a roupa. Já estava na ducha quando Elen da porta do banheiro falou:
- Eu ainda confio em você. Ela falou me olhando pelo vidro transparente do box e saiu.
Ás três da tarde estivemos novamente na Universidade onde técnicos e doutores falaram informalmente comigo, com Ricardo Regis e com Alex Baba.
Trocamos informações e detalhes.
Ficamos até oito horas da noite e terminamos nossa visita á Universidade e á Toronto.
No hotel, já em meu quarto, o interfone anunciou que Denise estava no saguão.

Saga Derinarde II – Capítulo 099
Desci e ela tinha dois ingressos de teatro na mão. Não tive como dizer não e fomos ao teatro.
A peça era de um autor local e dizia respeito á briga familiar de um filho drogado. Um drama atual e comovente.
Não cheguei a chorar, mas foi angustiante, ao contrario de Denise. Pensei que fosse se desfazer, tamanho era a quantidade de lágrimas que produzia.
Saímos do teatro direto para um pub, mas ficamos pouco.
Encontramos dois amigos da noite anterior e outros dois novos.
Conversamos um pouco e saímos.
Desta vez fomos para o hotel.
Subimos e ficamos até de manhã, pois Eduardo não precisou me ligar. Eu estava no ninho.
Entre sexo e cochilos descemos para o café da manhã á dez horas, meu voo era meio dia, então estava na hora.
- Quem é essa? A voz que veio de frente era da irritada Elen.
- Já que perguntou, essa é Denise. Apontei com o garfo, mas sem para de comer o meu quiche.
- O que ela está fazendo? Insistiu Elen.
Olhei para Denise e voltei o olhar para Elen.
- Comendo quiche.
Elen virou as costas e saiu batendo os pés no chão quando ainda ouviu Denise me perguntar:
- His mammy?
Não pude evitar, soltei uma gargalhada.
Terminamos o café da manhã e nos despedimos.
A van que nos aguardava levou-nos até o aeroporto.
O checkin foi rápido e logo estávamos nas poltronas do Boing que nos traria para casa.
Desta vez não houve reunião ou planejamento.
Estávamos livres para o que queríamos e decidi por o sono em dia.
Duas vezes que passe por Elen, a mesma não olhou na minha cara. Estava visivelmente chateada.
Como dormi a maior parte do tempo, não percebi as dez horas de voo e logo estava em casa.
MEIOPARDO ainda de férias, pois a roupa ainda não fora devolvida.
Eu fazia meus passeios noturnos como Deri.
Lento, no chão, caminhando, como todo humano normal.

Saga Derinarde II – Capítulo 100
Sem a roupa, sem MEIOPARDO a semana passou meio monótono.
Aproveitei para rememorar com amigos.
Fui á festas e á baladas.
Eu me comportei como qualquer jovem de minha idade.
Adrenalina somente nas trilhas sobre minha moto.
O tempo passou e minha roupa ficou pronta, e como ficou!
Com as novas placas de carbono ela ficou mais fina. Com o mesmo peso, o que não incomodava, mas muito mais fina.
No mesmo dia em que peguei a roupa liguei para Vtec, Fernanda e Waldir e lhes falei palavras do cartão fornecido por Vtec um dia.
- “Uniu para Manter-nos Unidos”.
Isto era o suficiente para todos sabermos do que se tratava.
Com a aceitação de todos, três horas depois das ligações estávamos reunidos em casa.
Expliquei toda a situação, sob o silenciador de Vtec ligado, e todos concordaram.
Peguei um cartão que estava na estante sob uma pequena estatueta de Buda, aquele gordinho de orelhas grandes, troquei o chip do celular por outro que havia comprado mais cedo na banca de jornal, assim impediria que qualquer identificador não me localizasse.
Liguei para o número que estava no cartão.
Atenderam do outro lado.
- Alô.
- Prymo? Luiz Prymo? O jornalista? Esperei a confirmação.
- Sim, quem fala?
- É o Zé do Meio.
- Sim, Sim. Conseguiu as fotos? Prymo perguntou ansioso.
- Melhor. Ele estará na rua hoje á noite e responderá três perguntas suas. Mas você ás fará agora e ele te responde á noite.
- Onde ele estará?
- Está é a primeira pergunta? Eu o provoquei.
- Não. Não. A pergunta é: Quais são seus objetivos? Feito a primeira pergunta.
- Certo. A segunda?
- O que são e de onde vêm essas habilidades?
- O quê você quer em troca? Esta é a pergunta: O que quer em troca do que faz? Isto está muito limitado. Falou querendo mais.
- Calma. Você irá conhecê-lo e ele á você. Tudo ao seu tempo.
Informei que eu o levaria até ele.
Passei o endereço e horário para o jornalista e desliguei.
Acertamos os detalhes. Vtec e Fernanda foram para a base. Waldir ficou comigo.

Saga Derinarde II – Capítulo 101
Quanto mais ansiosos ficamos mais o tempo demora á passar, mas chegou a hora.
Eu já estava com o botão do “LD” acionado apenas vesti a roupa e o aparelho duplicador mudou de vermelho para verde. Entreguei-o para Waldir que o colocou no bolso.
Waldir vestiu meu macacão de motociclista, colocou o capacete e desceu para a garagem.
Ao mesmo tempo em que liguei para os seguranças, na porta, avisando que sairia.
Quando Waldir saiu, agora sendo Deri, os seguranças saíram atrás dele. Saí também.
Deri fez o trajeto desenhado até a rua do encontro com Prymo e MEIOPARDO o seguia sorrateiramente sobre os postes.
Logo Deri chegou ao ponto e não foi difícil localizar o carro de Prymo. Havia um adesivo de “REPORTAGEM” colado no vidro traseiro do Citröen cinza de Prymo.
Deri emparelhou ao lado do carro e bateu no teto.
Prymo abaixou o vidro e colocou a cabeça para fora do carro.
- Onde está ele? Perguntou ansioso.
Deri, com a viseira do capacete semiaberta onde seu rosto ficava totalmente coberto, porém conseguia ser ouvido avisou Prymo.
- Siga-me, ele está esperando.
Deri esperou Prymo ligar o carro e engatar a primeira marcha e saiu.
Não era muito longe e por isto não demorou muito.
O comboio seguiu. Agora Deri, Prymo e os seguranças logo atrás.
Pararam.
Nenhum deles desconfiava que estivessem sendo observados por cima.
Prymo até que procurava nas alturas, mas sempre olhava para o lado errado, pois MEIOPARDO vinha sempre atrás.
Deri, sobre a moto, olhou para trás e fez sinal para Prymo.
Apontando para o chão e fazendo sinal de parar, com a mão espalmada, indicou que Prymo deveria esperar ali.
Era uma rua deserta num bairro de nome Planalto Paulista, na zona sul de São Paulo.
O bairro é de uma classe mais abastada o que faz com que poucas pessoas fiquem perambulando á pé tarde da noite.
Parece irônico, mas quanto mais pobre determinado bairro, mais gente chega e sai nas ruas.
Esta rua era muito arborizada o que fazia com que ficasse mais escura.
Deri seguiu em frente e Prymo não percebeu quando os seguranças passaram por ele seguindo na mesma direção que Deri.
Deri deveria ir até o Morumbi, comprar um refrigerante e voltar para casa. Minha casa.
Desta forma, o disfarce estaria completo.
Todos veriam duas pessoas distintas, Deri ou Zé do MEIO e o MEIOPARDO.
Mal viraram a esquina e MEIOPARDO estava ao lado da janela do motorista.
Prymo deu um pulo no banco que estava.
Assustou.
Destrave a porta do outro lado, ordenei.

Saga Derinarde II – Capítulo 102
Ao acionar o botão de destravamento das portas eu já estava abrindo a porta do passageiro.
Isto eu fiz para impressionar, mesmo.
Com um salto preciso sai do lado do motorista, aterrissei do lado do passageiro em uma fração de segundos.
Entrei no carro e fechei a porta.
Luiz já de bloquinho na mão e boca aberta não conseguia ao menos piscar. Estava impressionado.
Como ele nada falou, comecei eu, á falar:
- Meus objetivos são trazer um pouco de tranquilidade onde eu possa estar presente. Menos violência, menos impunidade.
- Minhas habilidades físicas são as que menos importam e as únicas coisas que me limitam. Considero minha maior habilidade o meu senso de justiça. Se a maioria pensasse assim teríamos alguns milhões de heróis como eu.
- Em troca eu quero apenas isto. Algo mais justo e menos violento. As pessoas precisam acordar e ver que se todos se unirem e trabalharem juntos, tudo ficará melhor para todos.
- Sei que a parte mais difícil é trabalhar, mas é possível.
Terminei a minha fala.
- E... Prymo tentou falar, mas o interrompi.
- Hora das fotos. Seja rápido. Ao dizer isto a porta do carro já estava aberta e eu fora do carro.
Prymo saltou com a máquina na mão. O flash me pegou no ar em direção ao poste e percebi mais uns três disparados enquanto pulava para outro, e outro poste.
- Missão cumprida. Comuniquei á base.
- Tem algo acontecendo perto do aeroporto só que do outro lado de onde você está. É na favela Alba. A polícia mandou até helicóptero para lá. Fernanda deu as coordenadas e comecei á saltar nesta direção.
Em três minutos estava em uma das entradas da favela. Seguindo na direção do helicóptero da polícia parei na entrada e observei a movimentação.
Aguardei mais alguns minutos e pelo que entendi na agitação dos policiais e mais o que foi me foi passado pela base, havia ali um tiroteio que envolvia sequestro.
Em uma favela, ou pelo menos nesta, não existe rede elétrica oficial, então não há postes. O jeito seria ir pelo chão mesmo.
Do alto de onde estava, atrás de uma viela, achei um bom ponto para pouso, então saltei.
Só não contava com uma enorme bacia que estava no mesmo local que eu escolhera para aterrissar.
PLAN, BRUM, KLAPT, STRUNS...
Acho que se eu quiser algum dia fazer barulho, não conseguirei atingir este nível.
Conforme cheguei ao chão meu pé pegou a borda desta enorme bacia que ao girar e subir pela ação da gangorra que se formou, atingiu um caixote de garrafas vazias que devido ao impacto de baixo para cima também voou espalhando garrafas para cima e para os lados.
Ao cair nos telhados, ou espatifarem no chão, mais ou menos ao mesmo tempo o barulho se amplificou. Afora algumas outras lata e coberturas metálicas encontradas pelo caminho.
Parecia comedia pastelão.
Refeito do acidente que nada sofri, continuei pelos becos.
Como os becos eram escuros, cheios de saliência e cantos, não foi difícil me esconder quando passantes, morador ou policial, passavam correndo por mim.

Saga Derinarde II – Capítulo 103
Eu seguia o barulho do helicóptero e o som de tiros esparsos que aconteciam.
- Base. Tem sons de tiros gravados ai? Se colocasse eu poderia, pelo som, identificar o armamento, o que me diz?
- Um momento. Avisou Vtec pelo comunicador atrás de minhas orelhas.
De repente quatro gravações foram tocadas em minha cabeça e respondi nesta quarta.
- Essa. É isso que estão usando. O que é? Perguntei.
- É uma FAL 762. Um fuzil belga muito rápido. Tome cuidado. Estes polímeros da sua roupa não suportarão. Falou Vtec muito preocupado.
-Não se preocupe. Agora são de carbono. Não me atingirão. Falei confiante.
- Pode até ser que não perfure, mas o impacto vai ser bem dolorido. Voltou Vtec.
- É verdade. Bem lembrado. Terei cuidado. E dei mais uma corrida até o cruzamento de outro beco.
Eu estava em um labirinto e não conseguia chegar mais perto. Quanto mais eu caminhava na direção do barulhento tumulto, mais longe ficava.
Para caminhar pelos becos de uma favela é preciso ter mais familiaridade.
Olhei para os lados e vi quem não vinha ninguém.
- Base, faça uma gravação completa á partir de agora. Falei para que Vtec e Fernanda me ouvissem.
 Eu me posicionei e saltei verticalmente o mais alto que podia.
Esperava ter uma visão melhor de cima, e olhei atentamente para todo o cenário enquanto subia e descia.
Cheguei ao solo.
- E aí? Tem algo que eu deva saber? Perguntei á base.
- Vai ser meio difícil de você se movimentar. Tem muito policial entrando e saindo das casas eles estão fazendo um pente fino.
- Eureca. Esta palavra pronunciada por Vtec sempre me trazia alegria e conforto.  
 - O que foi base?
- Sabe aqueles códigos estranhos que acompanhavam o sinal de sua visão que eu não sabia o que era? Vtec estava entusiasmado e me preparei para uma aula inteira.
- Vtec, agora nós não temos tempo para explicações. Posicione-me na situação. Fui ríspido com meu amigo.
- Esta bem. Homem amarrado e abaixado á quarenta ponto oito metros, nove horas. Três homens de guarda.
- Uma arma grande. Pode ser a FAL e três pistolas, um com uma e outro com duas.
- Você tem quatro pontos de apoio para chegar lá, mas não tem como entrar a não ser por cima.
- Base dê as coordenadas na sequência e do ponto de vista de cada uma. Pedi e ouvi com muita atenção.
Vtec continuou com uma precisão que faria a diferença. Eu agiria no escuro.

Saga Derinarde II – Capítulo 104
- Doze ponto quatro metros onze horas, dezesseis ponto um metros doze horas, seis ponto nove metros sete horas, onze ponto sete metros duas horas.
- Ok entendido. Tente identificar o tipo de material do telhado, acho que vou por lá. Falei enquanto me posicionava.
- Hora do ioiô. E saltei. Saltei exatamente como as coordenadas foram passadas e torcia muito para não ter bacias no meu caminho. Elas já se mostraram bastantes frustrantes por hoje.
No segundo salto ouvi Fernanda em minha cabeça.
- Amianto. Telha de amianto de três centímetros. Só com seu peso já quebram. Ripas as sustentam por baixo.
A entrada já estava decidida. Seria por cima.
- Posição dos ocupantes em relação á quarta posição? Perguntei mas não acreditava que haveria tempo para a resposta.
Após o último salto e quando meus pés tocavam as telhas de amianto a voz de Vtec ecoava em minha mente.
Não houve tempo de pensar. Por reflexo ou quem sabe uma ligação direta do cérebro ás pernas eu seguia as ordens sem ao menos ver o que acontecia.
- Duas horas um metro e doze, seis horas três metros e trinta, oito horas dois metros e dezoito. Realmente eu quase não ouvi as coordenadas, mas minhas pernas deram golpes certeiros.
A título de comparação, eu só me sairia melhor se Vtec tivesse um “joystick” nas mãos.
Os três estavam golpeados e no chão.
Fui até a vítima que embora amarrado e amordaçado visse tudo e não acreditava no que tinha visto.
- Meu trabalho acabou. Quando eu sair, grite o máximo que puder. A polícia está em volta e logo o achará. OK? Ele assentiu com a cabeça.
Recolhi as armas e as joguei por cima do telhado.
Eu mentalizei a mesma rota de chegada e saltei.
Estava fora da favela.
Do poste na frente da entrada da favela a qual cheguei vi quando o Citröen cinza com a palavra “Reportagem” na janela traseira chegou.
De máquina fotográfica e bloquinho na mão Luiz Nobrega Prymo chegou.
Ele teria algo mais á escrever sobre MEIOPARDO naquela noite.
Esperei algum tempo e solicitei:
- Base como estamos?
- A polícia recuperou o sequestrado alguma droga e tudo está em ordem. Fernanda parecia mais cansada que eu devido á pressão.
Eram quatro horas da manhã e fui para casa.
Ao chegar a casa vi que os seguranças estavam lá na frente e no sofá Waldir dormia todo desajeitado.
Chamei-o para a cama do quarto de hóspedes e dormindo mesmo desmoronou na cama.
Eu estava ainda excitado pelo que ocorrera. Não só com o desfecho, mas “numa geral”, como havia momentos antes respondido ao repórter Prymo.
Comecei a achar, de verdade, que estava fazendo algo bom.
Não sabia quanto tempo duraria, mas que era necessário e muito, muito gratificante.

Saga Derinarde II – Capítulo 105
Na manhã seguinte.
Lá pelas dez horas, Aracy invade meu quarto.
- Os maluquinhos estão aí, já faz um tempão.
Eu sabia do que estava falando Aracy e como estava na hora de levantar apenas respondi que já iria.
Na sala Vtec, Fernanda e Waldir discutiam.
- Acho que o Deri deveria explorar isso um pouco mais. Levantar uma grana. Sei lá. Waldir terminava de falar quando cheguei á sala.
- É deveríamos investir mais na tecnologia e ai teríamos mais... Vtec parou de falar quando percebeu minha presença.
- E aí pessoal, acham que algo precisa mudar? Perguntei á todos.
Ninguém se mostrou apto a falar, como sempre em uma reunião onde o assunto não está presente todos falam, mas quando o assunto chega, silêncio.
- Nada mudaremos e quem não estiver satisfeito não precisa continuar. Nada mais á discutir.
Coloquei um ponto final e passei para o assunto seguinte.
- Vtec, você descobriu algo e eu não deixei você contar, pois estava ocupado. O que foi aquela “EURECA”?  Perguntei á Vtec para quebrar o gelo da sala.
- Hummm, sim. Os sinais ou códigos que vinham acompanhados dos sinais visuais eu já sei para o que servem. Falou Vtec todo garboso.
- Sim e para que servem?
- São interpretações infravermelho. Conforme a quantidade de calor ele mostra uma escala.
- Quer dizer que eu vejo infravermelho? Mas como não identifico isto?
- Bem você tem algumas funções que ainda não foram liberadas ou implementadas. Não sei como realmente funciona, ainda, mas a tradução da escala infravermelha já é latente e aparecia nos monitores, só não conseguia traduzir parecendo que eram interferências ou sujeira de código binário. Assim que joguei uma escala aleatória o comportamento bateu com a quantidade de calor dos materiais e então deduzi que se tratava de infravermelho.
Vtec estava mais feliz em ter alguém para ouvir a explicação do que a descoberta propriamente dita.
- E como sabe que tenho funções latentes?
- O tablet que você trouxe para casa uma vez. Implantamos nele um dispositivo que conseguimos entrar na rede do projeto. Descobrimos muitas coisas e algumas outras deduzimos, pois nem eles ainda têm a customização e implantação.
- Ótimo. Quer dizer que ainda não sei tudo que sou capaz, mas sei mais que eles? Ótimo.
- Temos como bloquear algumas destas funções, ainda latentes, para que eles não as ativem?

Saga Derinarde II – Capítulo 106
Na manhã seguinte acordei com Aracy abrindo a janela do quarto.
Olhei para ela e disse:
- Já sei, tenho visitas.
E falamos juntos ao mesmo tempo:
- Aqueles seus amigos maluquinhos já estão ai novamente. 
- Diga á eles que só vou tomar um banho. Falei e fui executar.
Nada com um bom banho para despertar. Não importa á hora que foi dormir.
Chegando á sala, a discussão estava latente.
- Dá.
- Não dá.
- É só tirar um e por a outra.
- Não dá.
- Então fazendo uma partição.
- Eles logo perceberão que tem um local diferente.
- Faz em um sistema de arquivos diferente.
- Sistema de arquivos difer... Daí ninguém vai enxergar, vão achar que nada tem. É, aí dá.
- Eu não falei que dava?
- É. Você não havia explicado como.
- Vocês homens gênios. Pensam que sabem tudo.
- É. Vocês mulheres gênios, quando é referente á esconder alguma coisa vocês são mestras.
- Para com isso, hein... Fernanda fechou a cara com bico.
Era minha vez.
- Parece que descobrimos algo interessante... Por que não me contam.
Vtec tomou a palavra.
- É referente ás suas novas funções. Não podemos sair aí implementando tudo a qualquer tempo. Se descobrirem que estamos mexendo em você, darão um jeito de bloquear.
Fernanda continuou.
- Então estamos tentando uma maneira de implementar, porém manter escondido, então achamos que se fizermos uma outra partição no chip, num formato diferente, eles não perceberão.
- Formato diferente? Perguntei com dúvidas do que se tratava.
Vtec retomou a palavra.
- No disco rígido do computador você pode formatar com os sistemas FAT, FAT32, NTFS, ext, ext3 e ext4. Os seus aplicativos embora sejam grande parte em JAVA leem em uma plataforma para Windows, então apesar de acessarem qualquer plataforma não foram escritos para isto.
E continuou sem respirar.
- Se colocarmos uma partição ext4 poderemos fazer uma cópia das suas aplicações e otimizarmos esta nova partição.
- Com esta otimização poderemos implantar novas funcionalidades e estaremos á frente deles.
Não sei por que alguma coisa me deixou irritado.
- Peralá, peralá, peralá. Vocês estão querendo dizer que vão mexer na minha cabeça?

Saga Derinarde II – Capítulo 107
- Vocês estão querendo dizer que algo que o MIT não fez ou algo que a POLI não fez, vocês farão?
- Aracy tem razão.
- Vocês são malucos.
- Vocês acham que eu vou deixar fazerem isto. Se eu deixar estará provado que sou mais maluco que vocês.
- E como vocês sabe que conseguiram fazer isso? Encerrei meu discurso achando que tinha encerrado o assunto.
- Mas nós já fizemos. Fernanda falou tão baixo que quase não ouvi.
- O quê? O quê você disse? O quê vocês fizeram?
Vtec voltou a falar e diante da minha irritação ele foi mais cauteloso desta vez.
- Conforme eu já falei, nós temos acesso á todo o programa e em um dos sites tem um modelo onde podem ser testadas as novas aplicações.
Até ali eu já conhecia e estava acompanhando.
- Pois bem, fizemos algumas alterações e outras implementações e testamos no modelo o qual respondeu muito bem.
- Então tá. Só porque vocês descobriram que eu capturo sinais infravermelhos não que dizer que vocês estão na frente deles. Se os capturo é porque eles já previram isto e logo programarão. É só questão de tempo ou disponibilidade, ou sei lá. Fale alguma coisa que eles não previram ai vou acreditar.
E lancei um desafio.
- Isso mesmo. Fale algo realmente novo, criativo, inusitado que eles não tenham previsto que eu aceito e permito que façam o que quiser de mim.
- Diga, diga. Quero ver. Pensei ter acabado com eles.
Vtec olhou para os olhos de Fernanda.
Eu me arrepiei todo e comecei a me arrepender do que acabara de dizer.
Fernanda ainda com os olhos fixos nos olhos de Vtec pronunciou.
- A criação.
Vtec virou para mim e repetiu o que Fernanda acabara de dizer.
- A criação de movimentos.
- Que porra é essa Vtec?
- Fernanda? Eu estava assustado.

Saga Derinarde II – Capítulo 108
Vtec continuou.
- Todos os seus movimentos são aplicados no modelo e catalogados. Você tem, hoje, seis mil duzentos e cinquenta e oito movimentos catalogados. E você os consegue executar a qualquer momento seguindo os mesmos padrões que foram registrados no modelo.
- Sim e daí? Perguntei sem querer interromper Vtec.
- Fora estes registrados, você não consegue executar outros.
Agora interrompi.
- Conversa. Eu executo qualquer coisa, faço qualquer movimento. Está tudo aqui na minha cabeça e não num chip ou num modelo. Falei apontando para minha cabeça.
Fernanda falou.
- Você lembra da descida na favela. Quando acertou uma bacia?
E continuou.
- Por que não desviou um centímetro da bacia?
- Por que não vi a bacia, oras bolas. Tentei minha defesa.
Então Vtec começou a detalhar.
- Seus sensores acusaram a bacia quatro segundos antes de atingir o solo.
- Os seus olhos foram deslocados para ela vinte e dois centésimos após serem acusados.
- Você precisaria de oito centésimos para mover o pé por dois centímetros.
- Sobraram mais de três segundos e você não movimentou o pé porque não existia este movimento no modelo.
Vtec estava me massacrando com esta precisão. Se ao menos tivesse o LD ligado.
- Foi só um exemplo.
E continuou por quatro horas de algo muito técnico que o obrigou a repetir algumas vezes, mas ao final, o resumo da ópera é que Vtec e Fernanda haviam escrito um programa sobre o programa da POLI em que dava ao MEIOPARDO a habilidade de criar movimentos e não só aplicar os catalogados no modelo.
Através do deslocamento do centro de massa calculado no giro-estabilizador o impulso foi aumentando  para saltos, afinal a POLI não sabia que eu saltava postes.
Ainda: Interpretação dos sinais Infravermelhos, e de aproximação da visão; o tratamento de filtro de imagens que eram necessários os computadores da base fazerem eu faria em tempo real.
E mais: Ondas sonoras de baixa frequência, aquela que cachorros ouvem também seriam tratadas no chip; Através de um pequeno emissor destes sons fornecido pela dupla, os sons de baixa frequência seriam capturados e eu utilizaria a eco localização.
Eu estava relutante á fazer tais alterações, pois não teria nenhuma estrutura de apoio como a POLI fornece.
Seria um tiro no escuro e eu estava literalmente “COM O CÚ NA MÃO”.
- Fernanda. Eu acho o Vtec um gênio, mas ele é meio louco. Você é mais sensata. O quê eu faço? Falei entregando meu destino nas mãos de minha amiga Fernanda.
- Deri. Vtec é sim louco. Más se ele disser que faz, ele faz. Eu acompanhei todos os testes no modelo e se existisse meio por cento de chance de dar problemas, eu seria a primeira a falar.
- A estrutura fornecida pela USP é fantástica e muito confiável. Outra coisa... Se detectarmos algum problema no meio do caminho, coisa que acho difícil é só desabilitar. O risco é muito pequeno.
Mulheres, ah mulheres.
Elas têm o dom do nos acolher e confortar.
Elas nos convencem, nós homens, de que, até o inferno é um lugar aconchegante, se quiserem.

Saga Derinarde II – Capítulo 109
Virei-me para Vtec. Sereno e consciente.
- Se eu disse que faria se vocês me mostrassem algo novo, e vocês mostraram então eu farei.
- Bem, não é tão fácil assim. Precisamos ir até a base. Não temos o protocolo para a carga, via satélite. É criptografada até o nono nível. Qualquer cracker entraria na NASA, mas não neste protocolo.
- Então que dizer que conhecerei “a base”?
Fernanda se antecipou.
- Deri. A base não é nada do que você está pensando.
- Que nada. Não estou pensando nada, acho que são uns dois o três computadores numa salinha minúscula. Sei que não temos recursos ilimitados. Falei aceitando a humilde situação.
- Que nada. É uma espelunca, suja e deplorável. Falou Fernanda sem o menor pudor.
- Epa, peralá. Tem tudo que é necessário para estudo dos nossos objetivos. Protestou Vtec.
- Sim. Tem tudo, e mais roupa suja, comida estragada, sujeira... Aquilo, aquilo... Um humano não pode viver assim. Fernanda estava inconformada.
Achei que era hora de intervir.
- Acho que está na hora de a gente tirar essa coisa de doméstico e partir para algo mais bem estruturado. Tenho uma verba muito boa para o que faço e não vejo problemas em aplicar isso em algo mais proveitoso. Diria até  um pouco mais profissional. Vamos alugar uma sala para fazer de base. Algo discreto e que possamos ter acesso vinte e quatro horas por dia.
- Vtec, vá à Santa Efigênia e compre o melhor equipamento que isto possa comprar. Disse enquanto preenchia um cheque.
- Fernanda, arrume uma sala como precisamos. MEIOPARDO já é uma instituição. Fazemos valer á pena.
- Vtec e Fernanda. Eu topo. Façam o que for preciso. Vamos fazer disto algo sério e profissional. Não esconderemos nada, nem fugiremos de nada. Claro preservando as integridades e o anonimato, pois nem todos aceitarão com harmonia.
- Á partir de agora, MEIOPARDO é uma instituição que as pessoas de boa fé necessitam. Oxalá eu possa ter discernimento do que é certo e do que é errado, porém, contra a violência, SEMPRE.

Saga Derinarde II – Capítulo 110
Conforme o tempo foi passando percebi que o emprenho de Fernanda e Vtec era muito grande.
Fernanda correu diversos imóveis até encontrar um que, para ela, seria “o melhor” para ser considerada “BASE”.
Era um sobradinho pequeno e muito simples em um bairro tranqüilo e muito residencial.
Este sobrado tem um quintal na frente e outro atrás e ainda tem dois corredores laterais, um de cada lado.
Tem um banheiro e dois quartos pequenos no andar superior, uma cozinha e sala, também pequenos no andar térreo ligados por um minúsculo corredor.
O que mais chamou a atenção de Fernanda foi o porão.
O porão ocupa a mesma área da sala e cozinha do térreo, porém em um único cômodo. O acesso ao porão é feito por uma porta horizontal, no chão ao lado do pequeno corredor que liga a sala á cozinha.
Por uma escada em caracol se faz a descida e subida do porão fazendo com que a porta seja uma diminuta tampa quadrada e lisa. Com um tapete de um metro por um metro esconde-se facilmente esta passagem. E assim foi feito.
Vtec foi inúmeras vezes á Rua Santa Efigênia, uma tradicional rua no centro de São Paulo especializada em eletro-eletrônicos. Dizem que o que não se encontra na Santa Efigênia, não se encontra no Brasil.
Vtec comprou três servidores e somando-se memória RAM e discos rígidos dos três seria possível montar uma empresa de médio tamanho, de processamento de dados, afora os acessórios e “apetrechos”. Em suma, Vtec encheu o ambiente do porão. Aquilo parecia um quartel general digno de qualquer agente secreto do cinema hollywoodiano.
Mobiliaram o sobrado com o que há de mais simples quanto a sofá e camas. Em suma: Deixaram a casa habitável.
Eu fiz a minha primeira visita em uma quarta-feira. Á noite, claro. E quem visitou foi MEIOPARDO, na o Deri.
Ao chegar no endereço fornecido pela dupla, achei que havia me enganado.
No quintal da frente há um pote de comida e água que pareciam esperar um cachorro chegar a qualquer momento.
Montes de fezes do animal estavam aqui e acolá. E pela aparência o animal deveria ser um búfalo, de tão grande os montes.
Fiquei sobre o poste da frente da casa um tempão e liguei do celular. Ao segundo toque desliguei e tornei a ligar e mais um toque. Este era o sinal combinado.
A luz do quintal da frente se apagou e a porta lateral abriu. Com isto tive certeza que o endereço estava correto.
Em um único salto desci na frente da porta lateral e entrei.
A porta se fechou á minhas costas. Era Fernanda que me recepcionava.
- Vocês não falaram nada que tinham cachorro. Foi a primeira pergunta que fiz á Fernanda.
- E não temos. Respondeu sem maiores explicações.
- Mas o que é isso ai na frente? Comida, fezes?

Saga Derinarde II – Capítulo 111
- É ideia do Vtec. Ele achou que se parecesse que tem um cachorro evitariam curiosos.
- E aquele cocô todo? Andaram pegando na rua, num canil?
- Nada. É de gesso pintado. Um dia ele Poe aqui e ali. Em outro dia cá e acolá. Dá a impressão que é limpa e o cão torna a fazer. Fernanda deu uma explicação lógica para a cena.
Adentrei ao restante da casa e fiquei feliz em saber que o dinheiro que disponibilizei havia sido muito bem aplicado.
Não encontrando nenhum equipamento visível e não sabendo detalhes da casa ainda, perguntei á Fernanda:
- Onde é a sala secreta?
- Você não é o MEIOPARDO? Tente descobrir. Fernanda lançou um desafio.
- Ficamos em silêncio e agucei os sentidos.
Nada ouvia, comecei a vasculhar a casa com os olhos, centímetro por centímetro.
- Nestas horas aquelas implementações de audição e visão que vocês falaram fariam a diferença.
Não achei nada fora do lugar ou uma possível passagem secreta, mas na segunda vez que passei pelo corredor entre a sala e a cozinha do térreo eu imaginei que aquele tapete no chão poderia trazer uma surpresa.
- Ali, sob o tapete. Apontei para o tapete olhando para Fernanda.
- Falei para Vtec que estava muito fácil. Fernanda ficou desapontada.
- Tente por uma mesinha para disfarçar. Ou melhor, um barzinho ficaria ótimo.
Tiramos o tapete e descemos.
- Olá Vtec. Ficou muito bom. Falei enquanto admirava os equipamentos funcionando.
- Para começar está bom. Vtec falou sem tirar os olhos dos monitores de trinta polegadas.
Ficamos oito minutos sem nada falar. Vtec ficava de um teclado para outro parecendo um alucinado até que o silêncio foi quebrado.
- EUREKA.
Vtec trouxe até mim fios que tinha nas pontas, conectores que lembravam exame de eletrocardiograma e pediu que eu colocasse sob a roupa, na direção do ombro direito, apontando com os dedos o local exato.
O fiz sem restrições e Vtec voltou para os teclados.
Alguns minutos depois Vtec se voltou para mim.
- Pronto. Carga feita e escondida. Dê-me do LD.
Tirei o pequeno aparelho que sempre carregava comigo e estava sob a roupa, na altura da cintura.
Ensaiamos alguns movimentos com tornozelos e joelhos e aferimos que o LD já poderia ser substituído por tais movimentos, como códigos de acesso, porém agora, com três níveis.
Vtec começou o discurso.
- Você agora tem duas partições. O pessoal do projeto só enxergará uma e fará as otimizações nesta. Na segunda partição nós faremos as nossas atualizações.
- O primeiro movimento acionará a primeira partição, más você utilizará pouco isto, pois quem realmente acessará isto é o pessoal do projeto.
- O segundo movimento, que é o mais fácil e rápido acionara nossa partição, nossa área, a que tem a novas implementações. E o terceiro movimento, o mais difícil e longo, para não cometer equívocos, desliga tudo.
Depois de dezenas de repetições, explicações e histórias, finalmente terminou.
- É tudo. Entendido?
Não me atreveria a dizer não.
- Claro. Fácil. Apensar de ter entendido não parecia convincente para Vtec que fez questão de revisar.
Ficamos nisto até altas horas até que por fim convenci-o de que estava realmente entendido.

Saga Derinarde II – Capítulo 112
Sai da base com a certeza de que Fernanda e Vtec agora tinham equipamentos e muita vontade para pesquisar mais para o MEIOPARDO.
Já no dia seguinte, ou melhor, na noite seguinte fui chamado por Fernanda com uma notícia estranha e no mínimo, assustadora.
- Deri, um colega meu, que trabalha na polícia me disse que receberam uma ameaça de bomba num estádio de futebol e vai explodir hoje às onze e meia.
- Onde tem jogo hoje? Perguntei á Fernanda enquanto colocava a super-roupa.
- Morumbi. Oitavas de finais. Estádio cheio. Fernanda falou enquanto desligava o telefone. Já havia executado o movimento para acionamento do sistema, colocado o tranmissor e á ouvia em minha cabeça.
- Estou á caminho. Disse enquanto saltava da janela do segundo andar.
Em pouco mais de vinte minutos observava uma das entradas do estádio tentando imaginar uma forma de entrar sem ser percebido.
De onde estava enxergava a iluminação e um totem de um posto de combustíveis mais adiante e surgiu uma ideia.
Fui até o posto que, naquele momento, não tinha grandes movimentos.
Na garagem de troca de óleo que eu estava usando como esconderijo para observar as possibilidades,  encontrei uma blusa de capuz e um macacão de frentista. Era tudo que eu precisava.
Peguei-os e me retirei para o estádio.
Já usando o macacão sobre a blusa e o capuz levantado, cobrindo a cabeça, fui em direção á entrada onde dois seguranças fumavam e conversavam.
Ainda não tinha ideia do que falaria ou faria, mas fui ao encontro deles. Era minha primeira barreira a ser rompida.
Por sorte do acaso, meia dúzia de torcedores discutiam em voz alta á uns oitenta metros dali.
Aproveitei a deixa e falei para os guardas:
- Tem um cara armado lá. Vai dar merda.
Os dois dispararam a correr ao encontro do tumulto e eu entrei.
Os corredores internos do estádio estavam desertos ou com algum funcionário fazendo a manutenção e limpeza e nenhum pouco interessado no cara de macacão.
Comecei a procura.

Saga Derinarde II – Capítulo 113
Agora com os sentidos aguçados e mais do que isso, com novos atributos comecei a aumentar a velocidade da procura e em segundos corria pelos corredores com a segurança de que estava tudo limpo.
Na base, Vtec e Fernanda davam apoio e refaziam as busca com softwares muito sofisticados que conseguiram adquirir pela internet.
Estava ficando frustrado por não ver nada, na ouvir nada.
- Tem alguma obra acontecendo perto do portão dezoito? Pergunto Vtec desconfiado de algo.
- Não vi ninguém o nada que mostrasse isso. Respondi pelo que havia checado.
- Tem uma pilha de sacos de cimento lá, sem proteção e sem indicação de que há obras. De uma checada.
Em uma velocidade sobre-humana me desloquei para o tal portão.
Chegando lá confirmei que a pilha de sacos de cimento não combinava com a área e situação.
Chequei mais perto e tentei tirar o saco mais acima.
- Leve. Está cheio com alguma coisa, mas não é cimento e está colado no saco debaixo também que está colado no próximo. Isso é para esconder algo.
- Vtec, a bomba deve estar aqui, eu já tenho visão de raios-X? Sabia que não era hora de piadas, mas não me contive.
- Não, não tem. Informou Vtec, desanimado.
Lentamente, com cuidado e observando cada fresta e cada movimento causado por mim e pela acomodação dos sacos afastei-os de maneira que, de uma boa fresta, vi uma caixa de metal.
Percebi também que a pilha que afastei não tinha nenhum tipo de ligação ou contato com a caixa e decidi afasta-la mais.
A caixa metálica já era totalmente visível.
Com um barbante pendurado á caixa havia uma enorme etiqueta.
Peguei-a com cuidado e sem puxar o barbante virei-a para observar melhor.
Havia um recado.
“Esta não explodirá hoje. Se não fizerem uma transferência de cinquenta milhões de dólares para a conta abaixo até sábado, a próxima fará muito estrago e o valor dobrará”.
Ainda abaixo havia a identificação da conta em um banco do Irã.
Tinha uma assinatura: “CASTRO”.
Acreditando agora que não haveria explosão resolvi dar o fora, pois percebi uma movimentação maior dos seguranças. Acho que receberam a noticia.
Sai pelo mesmo portão que entrei e o pessoal da segurança não estava mais preocupado com alguém que quisesse entrar ou sai. A preocupação era outra.

Saga Derinarde II – Capítulo 114
- Acho que é algum bobalhão passando um trote. Cuba não conseguiria dinheiro assim. Falei enquanto fazia o caminho de volta para casa.
- Que Cuba? Perguntou Fernanda.
- Estava assinado Castro. Fidel Castro é de cuba. Respondi á Fernanda.
- Este Castro não tem nada com Cuba. Respondeu Vtec e continuou.
- Alias não é este, é esta. Sheyla Castro. Ela é panamenha e apoia as FARC. Ela é procurada em dezesseis países. É coisa séria.
- E por que ela viria exigir dinheiro aqui no Brasil? Perguntei de volta.
- Talvez porque é o próximo da lista, apenas isto. Respondeu Fernanda.
- Dizem por ai que ela tem tirado dinheiro do México e Chile. Chegou a nossa vez. Respondeu Vtec.
- E você acha que aquela bomba era de verdade? Perguntei para a base.
- Aquela eu não sei, mas ela tem todo o potencial para fazer uma. Ela já explodiu algumas em Honduras, na Guatemala e na Colômbia. Informou Vtec.
- Base, levante tudo que puder sobre ela. Vamos tentar antecipar qual será o próximo passo. Fernanda abra a porta. Cheguei. Eu disse enquanto aterrissava na soleira da porta da base.
Em alguns segundo Fernanda abriu a porta e entrei e fomos direto para o porão.
Vtec tinha dois monitores cheios de informações, mas trabalhava intensamente no teclado sob o monitor que apresentava o símbolo e nome “INTERPOL”.
Em poucos minutos a tela se abriu e então Vtec começou a pesquisa: Sheyla Castro.
Inúmeras páginas se abriram. A mulher era profissional.
Tão rápido quanto entrou, baixou os arquivos e fechou a página.
- Os servidores da INTERPOL são muito bem vigiados, mas os espelhos nem tanto. Se entrar, pegar os registros e sair, quase não o perceberão. Vamos ver o que trouxemos. Vtec parecia satisfeito.
- Sheyla Castro não blefa. Duas vezes que não acreditaram nas suas ameaças se arrependeram mais tarde.
- Uma explosão na Guatemala com doze mortos e trinta e oito feridos e outra em Honduras com cinco mortos e dezesseis feridos. As demais explosões foram sem aviso e sem pedidos.
- Na TV, estão falando sobre a bomba. Fernanda nos interrompeu sintonizando um jornal internacional no monitor.
“No Brasil uma partida de futebol foi interrompida e o estádio está sendo evacuado neste momento, pois há uma suspeita de bomba”.

Saga Derinarde II – Capítulo 115
A tela mostrava milhares de torcedores saindo sem entender nada.
Alguns corriam outros saiam revoltados por não ver o seu time ganhar.
Mostraram mais algum tempo e terminaram informando que voltaria com mais detalhes.
Enquanto Vtec e eu procurávamos mais informações sobre o Perfil de Castro, Fernanda monitorava as redes sociais para obter mais informações sobre o que estava sendo divulgado.
Encontramos dois elos fortes no Brasil que poderiam ligar Castro aqui. Alexsandro Vieira e Marcio Nonato e, segundo a INTERPOL, os três encontram-se constantemente em um hotel no centro de São Paulo.
Ambos estiveram entre Colômbia e Panamá nos últimos dois anos e há seis meses de volta ao Brasil têm atuado no tráfico de arma de grosso calibre.
- Pelos registros da polícia de São Paulo, um deles, o Marcio Nonato, tem uma mansão de faixada na região nobre na zona sul, especificamente no Morumbi e o outro vive em um Apart-hotel nos jardins. Vtec informava conforme apareciam na tela grande.
- A policia monitora-os devido ao tráfico e a INTERPOL, devido á ligação com Castro. Talvez se eles conversassem chegariam a conclusões mais rápidas. Finalizou desacreditado.
- Se as policias do estado não se conversam você acha que de países diferentes vão conversar? Fernanda consolou Vtec.
- Bem se eles planejaram isto hoje, devem estar esperando pela repercussão. Acho que o melhor lugar para esta espera é em casa. Qual o endereço? Perguntei ansioso para fazer uma visita fora de hora.
Vtec me deu os dois endereços e informei que iria para perto do estádio, visitaria Marcio Nonato primeiro.
Saí em direção ao Morumbi e não deixei de notar o movimento intenso de pessoas e carros que deixavam o bairro, contrariados.
Com instruções precisas de Fernanda que fazia o papel de GPS em alguns minutos estava em um poste na frente da mansão de Marcio Nonato.
Avistei os muros altos e com cerca elétrica, mas de fácil transposição para o MEIOPARDO. Na área externa da casa nenhum som ou variação de temperatura que o infravermelho pudesse detectar. Bom sinal. Saltei para o jardim e dei uma volta completa na casa.
Tudo fechado, mas com luzes internas acessas e som de televisão que somente MEIOPARDO poderia captura naquela distância.
Uma pequena escotilha no andar superior, providencial, serviria como entrada.
Saltei em direção á escotilha e como um atleta de saltos em alturas, os movimentos do corpo moldaram-se á estreita passagem.
Impressionante as alterações que Vtec havia proporcionado com o novo software. Eu quase que conseguia mudar a direção e velocidade de um salto. Coisa que com o sistema do projeto jamais conseguiria. Era muito rígido.
Da mesma forma que passei suavemente pela escotilha fiz um giro no ar caindo com os pés no chão. Nesta posição os giro estabilizadores se encarregavam de me manter equilibrado e em pé.
- Uau! Falei baixinho impressionado com o que havia feito.

Saga Derinarde II – Capítulo 116
A saleta em que me encontrava era pequena e baixa. Havia nela um sofá, uma escrivaninha e uma TV. Era um pequeno escritório, mas pelo jeito não era ocupado á bastante tempo.
Abri a porta e comecei á busca.
Encontrei ninguém no andar superior e fui para o térreo, de onde vinha o som da TV.
Do topo da escada que saia de um corredor dos quartos e terminava no meio da sala avistei um homem com grandes costeletas e um enorme bigode que, com o controle remoto na mão, pulava de canal á canal em busca de noticias.
Na dúvida se o homem me notaria ou não saltei para o andar onde ele se encontrava.
O homem assustou com aquilo que veio em sua direção e cruzou os braços sobre a cabeça em um reflexo para se proteger.
- Ai. O que é isso? Madre de Deus. Dizia quase chorando.
Sentei-me ao lado dele, mas tão junto que parecíamos siameses.
- Marcio Nonato, como eu queria te conhecer. Falei de forma á intimidá-lo.
- Por favor, senhor, Eu não fiz nada. Eu não sei nada. Por favor. O homem estava realmente apavorado.
Decidi explorar melhor a situação e joguei todos os verdes que tinha esperando uma boa colheita.
- Quem não sabe nada é um ex-presidente daqui. A Sheyla pediu para fazer uma visita á você. Ela quer saber se você fez tudo como o combinado. Apertei-o um pouco mais no sofá.
- Claro que fiz. A polícia já está no estádio. Não sei por que essas porcarias de jornais não falam nada. Já deveria ter um alvoroço. Mas eu fiz exatamente como combinado, eu juro, eu fiz. Percebi que o sofá estava molhado sob Marcio, e não era água limpa.
- E o próximo encontro, você irá, não irá? Apertei-o novamente.
- Claro. Sim, sim. É só ela ligar que irei.
- Só para saber se você está colaborando direitinho, o que você vai fazer até lá? Desta vez peguei um chumaço de pelos de seu grosso bigode e o puxei como se fosse arranca-los se não ouvisse a resposta certa.
- Nada. Quer dizer esta semana, nada. Semana que vem vou buscar uma carga com Alexsandro Vieira, no porto de Santos. Só isso. Conforme ele falava eu puxava um pouco mais o seu bigode.
- Que dia, hora, detalhes.
- Quinta. Quinta-feira, onze horas da noite, cais, doca dezenove.
- Esteja lá então, senão eu volto para cobrar. Falei e soltei o bigode do infeliz.
Fui até a porta da frente. Abri-a e sai. A porta era de vidro transparente. Virei para Marcio que me olhava com os olhos esbugalhados de tão abertos, apontei para ele e dei um salto para a rua esperando impressioná-lo ainda mais.
Achei conveniente não visitar Alexsandro Vieira na mesma noite, pois Marcio Nonato iria alertá-lo e de qualquer forma eu já tinha o próximo ponto de encontro.

Saga Derinarde II – Capítulo 117
- Base? Ouviu a conversa? Perguntei enquanto saltava os postes á caminho de casa.
- Sim ouvimos, mas pela programação do porto, nenhum navio atracará na doca dezenove a semana toda, a doca dezenove está interditada. Informou Fernanda.
- Se você tivesse que desembarcar algo que não pudesse ser visto, que tivesse que esconder e que tivesse pouco movimento para olhos curiosos, onde faria isto? Perguntei para aguçar Fernanda.
- Uma doca interditada?  O retorno veio rápido.
- Isto. Marcio não mentiu, aliás, ele jurou pelo fio do bigode. Quinta-feira eu irei para Santos.
A noite havia terminado para MEIOPARDO.
Na manhã seguinte entrei em contato com Bene Junior, pois precisava de veículo rápido para locomoção.
- Bene tudo bem? Fiquei sabendo que você negocia motos usadas, tem alguma muito rápida por aí?

- Tenho sim, tenho um Honda CBR1100XX Blackbird, mas ela sofreu um acidente e está sem parte da carenagem.

- Vou aí dar uma olhada. Desliguei fui à oficina de Bene.
Chegando lá, Bene me informou das condições gerais da moto que estava ótima, porém a carenagem estava destruída.
- É você mesmo que faz estas carenagens? Perguntei para Bene que me conduzia á sua pequena fábrica de carenagens e capacetes.
- Aqui a gente tenta empregar materiais mais resistentes para evitar um dano maior nas motos e motociclistas. É artesanal, mas com muita dedicação achamos bons substitutos para o mercado.
- Estou trabalhando nesta Blackbird há duas semanas e amanhã estará pronta, mas se quiser a carenagem original, podemos encomendar e em uma ou duas semanas ela chega. Não entendi se era uma sugestão ou uma pergunta.
- O que esta que você está fazendo difere da original? Minha vez de perguntar.
- Esta é de PVC. Ela deforma, absorve impacto e não quebra. Protege as partes interna da moto e diminui a chance do motociclista ser atingido por estilhaços.
- Hoje em dia o PVC bem trabalhado e bem misturado é superior até ao aço. Finalizou dando a resposta para minha escolha.
- Eu que a sua carenagem, claro. Eu quero também uma cor escura e que não reflita a luz. Algo muito discreto. Tentei fazer Bene entender o que realmente eu queria, mas sem outros detalhes.
- Já sei, vai participar de racha? Não vai ter pra ninguém, esta moto é um espetáculo. Onde você corre? O assunto interessou muito Bene.
- Nada disso, é que gosto de motos e gosto de ser discreto também. Evita olho gordo.
Não sabia o que falar, então eu falei qualquer bobagem.

Saga Derinarde II – Capítulo 118
Fechamos negócio e eu pegaria a moto na noite do dia seguinte.
Antes de ir embora ainda questionei Bene:
- Você saberia de alguém que negocia Jet-ski?
- Damasio. Damásio Náutica. O Adilson que anda de moto com a turma. Fica ali na Bandeirantes perto do Aeroporto. Bene me deu o endereço e parti para lá.
Chequei na loja náutica de Adilson e percebi o grande movimento. Uma carreta desembarcava Jet-skis novinhos que estavam chegando.
Esperei ele coordenar onde ficariam e então me aproximei.
- Adilson eu estou precisando de algo pequeno em muito silencioso, só que não quero comprar. É um aluguel por uma noite apenas.
- É para lagoa, rio ou mar? Perguntou Adilson.
- Mar, perto do porto de Santos. Respondi.
- Á noite ninguém aluga Jet, pode pegar um “Sea Doo” emprestado na loja que tenho no Guarujá. Fica perto da prefeitura e para acessar o porto é só atravessar o canal. Mostrou-me um mapa do porto.
- Ótimo, melhor do que esperava. Este aqui é o terminal de cargas? Apontei para determinado ponto do mapa.
- É sim. Aquele lá na frente é o graneleiro, aí vem descendo, dos containers, aqui frigorífico. Estes Jets que estão chegando à loja desembarcaram aqui, ó. Doca vinte seis. Adilson mostrava entusiasmo pela última aquisição.
- E ai sobe então. Doca vinte e sete, oito... Induzi Adilson a me mostrar a doca que procurava.
- Não para cá diminui. Doca vinte cinco até a doca dezessete, depois muda de lado e continua baixando.
Pelo mapa localizei alguns pontos possíveis para se ficar de tocaia e vigiar a minha doca.
- Fechado. Posso pegar na quinta-feira ás nove da noite? Perguntei.
- Pegue as sete, o pessoal fica só até esse horário. Estará prontinho sobre uma carreta. Vai puxar de carro?
- Não. De moto. Respondi.
- Sem problema, é leve. Se não tiver pressa até uma 125cc leva bem.
- É um pouquinho maior, a minha... Fui interrompido por Adilson.
- Estava pensando... Adilson mostrou-se prestativo.
- Eu tenho um depósito na beira d’água e posso deixa-lo lá para você. Passo a corrente e te dou as chaves. Você o usa e devolve no mesmo lugar. Assim ninguém esquenta com horário. O que você acha?
- Maravilha. Fique realmente feliz.
- Leve este selo junto com as chaves. O pessoal da segurança já estará sabendo, mas se alguém perguntar mostre o selo. Boa sorte.

Saga Derinarde II – Capítulo 119
Moto e Jet arranjados, o plano começava a tomar forma. Voltei para casa.
A repercussão da bomba no estádio, na mídia, foi pequena, de bomba, virou ameaça de bomba e em dois dias ninguém falava mais no assunto, porém na polícia militar e na polícia federal a coisa tomou o vulto que merecia. Toda a inteligência foi disponibilizada para a tarefa e acompanhamento. Até o exército estava de prontidão e colaborando, afinal era terrorismo internacional.
Os aeroportos estavam agora com a presença de mais homens, os portos tinha a presença da marinha mais atuante, as fronteira terrestres eram mais bem vigiadas, mas essas coisas em qualquer lugar do mundo, sempre tem um jeito de “fazer passar” e, em se tratando de Brasil, mais fácil ainda.
Na noite seguinte pedi para Vtec buscar a moto que já estaria pronta, conforme prometido por Bene.
E estava.
Vtec levou-a para a base e no quintal dos fundos da casa, onde não levantariam olhares curiosos, Vtec tirou tudo que não seria necessário para uma moto que pretendia ser anônima e sorrateira.
Vtec tirou placas e luzes sinalizadoras, farol e frisos. Literalmente depenou a coitadinha. Era apenas o quadro, motor e as carenagens protetoras que o Bene havia pintado de cores escuras e sem brilho.
Em um local de pouca luz ela jamais seria visto se não se prestasse muita atenção.
Cobriu-a e livrou-se das sobras.
Na noite da fatídica quinta-feira, assim que o sol se pôs e as primeiras sombras surgiram, MEIOPARDO surgiu também.
Rapidamente chequei á base e já sobre a parda Blackbird dei a partida. Que som maravilhoso tem essa moto.
Agora sem um monte de apetrechos ela parecia menor e provavelmente estaria mais leve.
Passei pelo estreito corredor onde as manoplas tinha uma distância máxima de um centímetro de cada lado entre as paredes.
As ruas de acesso á rodovia dos Imigrantes passaram rapidamente pelos pneus largos daquela máquina e ao acessar a rodovia a injeção eletrônica só tinha um comando: abrir a passagem de combustível.
Em poucos segundos estava á trezentos quilômetros por hora. Minha visão privilegiada incluindo o infravermelho se mostravam mais eficientes que qualquer farol de xênon.
Foram apenas minutos para acabar a serra e já estava na rodovia cônego Domênico Rangone que acessa o Guarujá.
Cheguei ao ponto onde estava o Jet e olhei o cronômetro. Foram vinte minutos de São Paulo ao Guarujá. UAU!!
Lembrei que lá atrás, na estrada, algumas pessoas estavam tentando entender o que foi aquilo que passou, tanto nos postos da polícia rodoviária quanto nos pedágios.
O Jet estava do jeito que Adilson havia falado. Acorrentado quase dentro da água. Encostei a Blackbird em um local de pouca visibilidade para quem por ali passasse e passei por um pequeno portão de tela, cuja chave fornecida por Adilson, entrou perfeitamente em sua fechadura.
Soltei o cadeado e corrente do Jet e sem muito esforço escorregou para a água.
Subi e liguei. Silencioso.
Vagarosamente comecei a descer o canal para os pontos que havia vislumbrado no mapa da loja do Adilson.
O primeiro ponto localizado não era bem o que eu esperava então fui para o próximo.
Perfeito.

Saga Derinarde II – Capítulo 120
Manobrei o Jet de maneira que fiquei de frente para a doca dezenove, ligeiramente á esquerda.
A doca dezenove estava realmente fechada e faixas plásticas de cor laranja e luminosas indicavam isto.
Não eram nem oito horas ainda, tinha muito á esperar.
Alguns barcos passaram pelo canal, entre meu local de tocaia e a doca dezenove e a cada passagem, ondas se formavam fazendo com que o já monótono e tornasse ainda mais.
Aquele som de agua batendo na lateral do Jet daquela marola que sobrava da passagem dos barcos dava uma moleza, uma soneira de dar inveja á qualquer bom colchão.
Más eu me mantive firme.
Passava das onze horas, horário anunciado por Marcio Nonato, quando algum movimento começou na doca, á minha frente.
Primeiro chegou um cara, como quem nada quer.
Olhou para um lado, olhou para outro, viu o movimento no canal, quase nenhum.
Acendeu um cigarro fumou-o até o fim. Jogou o toco na água e se retirou.
Em menos de dez minutos voltou com outro comparsa, mas desta vez, ambos estavam carregando armas e, não eram quaisquer armas. Eram submetralhadoras.  
- Base, o que me diz dessas armas. Perguntei sabendo que a resposta não seria das melhores, pelo menos para mim.
- São FAMAE SAF nove milímetros. Arma chilena de pouco mais de três quilos com carregador de trinta cartuchos. São bem letais, tome cuidado. Acrescentou Vtec.
Mais uns dez minutos e outros dois chegaram também fortemente armados.
Um deles tinha um radio comunicador e após conversar com os dois que chegaram antes, depois de inspecionar o local e o canal, falou ao rádio.
- Todo biem, camino Libre. Câmbio. E desligou.
O som ao fundo trouxe um toc, toc, toc que foi aumentando conforme o tempo passava.
Outros quatro se uniram ao grupo.
A movimentação de um carro chegando, mais atrás do galpão, logo se mostrou o real início da atividade.
Marcio Nonato e outro que imaginei ser Alexsandro Vieira, pela atitude, chegaram com mais seis seguranças igualmente armados.
Eu já contabilizava dez seguranças mais Marcio e Alexsandro. A festa seria boa.
O toc, toc logo contornou a curva da entrada e se mostrou um barco rebocador. Aqueles que puxam navios na entrada do cais.
Veio tranquilo, na mesma batida e encostou-se à doca que até então estava interditada.


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